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Economia

Tecnologia vai revolucionar a produção alimentícia, dizem especialstas

O evento, organizado pela DATAGRO, reuniu os principais líderes do agronegócio nos setores público e privado e gigantes da tecnologia para falar sobre os impactos das novas tecnologias no campo.

São Paulo - A necessidade de aumentar a produção de alimentos no mesmo ritmo que a população cresce exige uma otimização dos processos. Para especialistas, a tecnologia será responsável por uma revolução no setor. E para debater o assunto, a agricultura do futuro foi tema central do primeiro Global Agribusiness Forum Talks - série internacional de encontros que discute as principais tendências da agropecuária - realizado na última quarta-feira (29), em São Paulo.


O evento, organizado pela DATAGRO, reuniu os principais líderes do agronegócio nos setores público e privado e gigantes da tecnologia para falar sobre os impactos das novas tecnologias no campo.

A produção mundial de alimentos deve aumentar em 70% nos próximos 40 anos para suprir toda a população que será, segundo projeções da ONU, de 9 bilhões de pessoas em 2050. O Brasil terá um papel importante nessa produção. No ano de 2024, o país será o maior exportador de alimentos, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Essas projeções, porém, vão mudando com o passar dos anos.

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Para o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, esses números podem ser maiores do que pensamos. ;O pior é que se dizia que a população em 2050 começaria a decrescer, agora a previsão é que só para o ano de 2070 poderia se chegar ao ponto máximo de crescimento da população e só aí desceria. É provável que a população não se estabilize em 10 bilhões de pessoas, mas em 11 ou 12 bilhões. A demanda para o futuro ainda é maior do que pensamos há três ou quatro anos atrás;, afirmou.

Para Hugh Grant, CEO da Monsanto, uma das principais empresas de agronegócio, o maior desafio é como aumentar a produção de alimentos. ;A ciência dos dados vai mudar a agricultura nos próximos 20 anos do mesmo modo que a biotecnologia mudou o setor nos últimos 20 anos;.

Para explorar a potencialidade do setor no Brasil, uma das inovações que promete revolucionar a área é o mercado de tecnologias aplicadas ao agronegócio, o chamado AgTech, que permite uma otimização da produção através de softwares de monitoramento, rastreamento, uso de dados como controle de riscos, drones, inteligência artificial e aplicativos voltados ao produtor rural. As empresas que desenvolvem essas novas tecnologias são a nova aposta de investidores do mundo inteiro.

Uma das revoluções tecnológicas na área é a utilização da ferramenta Big Data, uma técnica de coleta e análise de um grande volume de dados para detectar problemas e construir soluções, otimizando a produção. ;A interconexão entre os distintos tipos de fontes de informação é o que caracteriza a Big Data. É a ferramenta do futuro, não podemos pensar em agricultura de precisão sem entrar no campo da Big Data;, pontuou Bojanic.

Para fortalecer o mercado, Maurício Antonio Lopes, presidente da Embrapa, ressaltou a importância de uma marca de qualidade que o Brasil ainda não foi capaz de criar. ;O Brasil não tem inteligência estratégica. Nós ainda não atinamos para a importância estratégica de ter uma marca na sua agricultura e agro;.

Operação Carne Fraca

A Operação Carne Fraca também foi lembrada logo na abertura do evento quando o presidente do conselho do GAF, Cesário Ramalho, apresentou um manifesto de apoio ao ministro da agricultura, Blairo Maggi, por sua atuação na operação. Maggi era esperado para abrir o evento, mas não pode comparecer devido a compromissos relacionados com a recente crise da carne. ;Passado o ápice dos acontecimentos, ficou claro que houve deslizes, erros e exagero que combinados fizeram casos pontuais parecer um modelo de negócios do setor de carne do país;, diz um trecho do documento.

O tratamento dado ao tema foi duramente criticado pelos ex-ministros da agricultura Francisco Turra e Roberto Rodrigues. Turra ressaltou a importância e o prestígio da carne brasileira no mercado internacional e lamentou que a imagem construída ao longo de anos tenha sido manchada por um ;caso isolado;. ;Nunca pensei que a desinformação, a generalização e banalização da informação nos levassem a um momento como este. Brasil vende carne podre, Brasil vende produtos contaminados, isso passou para o mundo todo. A inspeção sanitária realizada regularmente tem que ser muito mais rígida agora;.

Roberto Rodrigues, por outro lado, cobrou punição aos responsáveis. ;De quem é a culpa? Nós sabemos de quem é a culpa compartilhada, mas o problema é outro. Quem paga o prejuízo? Quem vai pagar o prejuízo do Brasil? Dos produtores? Das indústrias?;, questionou.