A aprovação da reforma da Previdência no Congresso pode levar a uma mudança ao menos da perspectiva do rating soberano brasileiro, disse nesta quinta-feira (23/3) o diretor da Fitch no Brasil, Rafael Guedes, ressaltando que é preciso que o texto final não fique muito esvaziado.
A posição da Fitch é esperar por mais clareza do cenário de andamento de reformas no Congresso e do ambiente político, disse ele. Um dos riscos é o alto patamar de desemprego e suas consequências sociais. Outro deles são as "imprevisíveis consequências" da Lava-Jato e da revelação das delações da Odebrecht, que deve envolver mais políticos em Brasília. Guedes citou ainda que está no radar o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da chapa que elegeu a ex-presidente Dilma Rousseff e Michel Temer em 2014.
Já entre os pontos positivos está a queda rápida da inflação, o começo da melhora dos índices de confiança dos empresários e consumidores e o ajuste nas contas externas. O executivo ressaltou ainda a aprovação da medida que estabelece um teto para alta dos gastos públicos. A reforma da Previdência, disse ele, é muito necessária porque é a que mais tem impacto na dinâmica dos gastos públicos
O diretor da Fitch explicou que a agência pode fazer uma ação negativa no rating soberano brasileiro se o governo não conseguir tocar o ajuste fiscal e não conseguir reaquecer a economia. Já uma melhora nas perspectivas de expansão do Produto Interno Bruto (PIB), provocada por políticas que estimulem a atividade, seria um fator positivo para o rating.
A Fitch atribui rating BB com perspectiva negativa para o Brasil. A revisão mais recente ocorreu em novembro de 2016. Segundo Guedes, foi a primeira ação da agência em 18 meses que não significou um rebaixamento da nota soberana.
Guedes participou de um seminário em São Paulo organizado pela EMTA, uma associação de Nova York que reúne gestores de recursos e analistas de bancos, corretoras e gestoras de recursos dedicados a países emergentes.
PIB
A Fitch espera que o Brasil cresça 0,7% este ano, mas a previsão tem "viés de baixa" e pode voltar a ser cortada, disse Guedes. Para 2018, a estimativa é de expansão de pouco acima de 2%.
"Esperamos maior recuperação em 2018", disse o diretor da Fitch. Guedes disse que os resultados do terceiro e quarto trimestre de 2016 vieram abaixo do esperado, o que fez a Fitch já cortar sua estimativa anteriormente.
O diretor da Fitch ressaltou que é importante que as políticas do presidente Michel Temer contribuam para fazer a dívida pública parar de subir. "Nosso cenário-base é de crescimento constante deste endividamento, uma piora destes números. Mesmo no cenário mais otimista, só há uma leve queda a partir de 2021, mas ainda muito modesta", disse a jornalistas após o evento.
"Passar uma reforma não quer dizer nada. A grande discussão é o quão desfigurada e diluída ela vai ficar", afirmou, ressaltando que é importante que a reforma da Previdência mantenha pontos essenciais, como a idade mínima de aposentadoria em 65 anos e a regra de transição.