Jornal Correio Braziliense

Economia

Reforma da Previdência não é opção, é uma necessidade, afirma Meirelles

Para o ministro, uma proposta diluída para não gerar resistência "não resolve o problema". Ele também afirmou que a previdência brasileira é uma das "mais generosas" do mundo

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tirou o dia para fazer um périplo pelo Congresso Nacional em defesa da Reforma da Previdência. Ele marcou reuniões com várias bancadas ao longo do dia. Já no primeiro encontro com parlamentares, foi categórico em afirmar que a reforma é essencial para que o país não vire uma Grécia ou passe pela crise financeira que atravessa o estado do Rio de Janeiro. ;A reforma da Previdência não é opção. É uma necessidade porque existe o problema que quem vai pagar. E quem vai pagar é a população;, frisou Meirelles aos parlamentares do PSD, no primeiro encontro com bancadas da base aliada na manhã desta quarta-feira (8/3), na Câmara dos Deputados.

O titular da Fazenda mostrou uma série de gráficos mostrando que as despesas com a Previdência são as que mais crescem e que levarão o estado à insolvência. Para o ministro, apenas uma reforma ampla evitará a piora do quadro atual que caminha para a incapacidade de o estado honrar as aposentadorias, como ocorre com o Rio de Janeiro. ;Uma reforma da Previdência diluída para não gerar resistência não resolve o problema. Se for para fazer, tem que ser uma reforma que funcione;, disse o ministro ao lado do líder do PSD, Marcos Montes (MG) e do novo líder do governo na Câmara, Agnaldo Ribeiro (PP-PB).

[SAIBAMAIS];A situação das finanças públicas é tal que uma hora o governo vai ter problema de solvência, como aconteceu em muitos países. O caso mais notório é o da Grécia e já temos estados nessa situação. Se as pessoas acham que o estado vai ficar insolvente, o risco aumenta e a taxa de juros também;, afirmou Meirelles.
Meirelles reiterou, ainda, a necessidade de não alterar o projeto enviado ao congresso. Disse que não é possível flexibilizar as regras de transição e nem diferenciar a idade de aposentadoria entre homens e mulheres. "Se for para manter a diferença da mulher com 60, os homens teriam que aposentar aos 71", completou.

O chefe da equipe econômica do presidente Michel Temer aproveitou o encontro para derrubar o que ele chama de equívoco de que a Previdência não tem deficit. ;O argumento que se usa, de que a Previdência é superavitária, é um mito. Sem as despesas vinculadas à seguridade, sugerem um superavit de R$ 100 bilhões, mas, uma vez que se considerarmos a seguridade social, a figura muda e passa haver um deficit de R$ 180,5 bilhões, mesmo sem considerar a DRU (Desvinculação das Receitas da União);, comentou o ministro afirmando que a previdência brasileira é uma das "mais generosas" do mundo.

Previdência rural

Rebatendo a defesa de membros da base aliada em retirar a aposentadoria rural da reforma, Meirelles disse que o deficit da previdência rural, que é um dos que mais cresce e pesa fortemente no deficit total do sistema, passando de R$ 14,2 bilhões, em 2002, para R$ 103,4 bilhões, em 2016, valor expressivo se comparado ao deficit total do regime geral da Previdência, de R$ 150 bilhões. ;O resultado da previdência rural é estruturalmente negativo e essa negatividade só aumenta. Uma tendência é deixar de fora porque vai gerar controvérsia em uma representação forte. Mas não podemos deixar de fora o problema que são os números. O deficit é enorme e crescente;, afirmou.

De acordo com Meirelles, a saída para cobrir esse rombo é a reforma. Caso contrário, o governo terá duas alternativas: aumento de imposto e contribuições ou aumento da dívida do governo. ;Vamos ser claros. O governo não fabrica dinheiro. Já tentou na década de 1980. Isso gerou hiperinflação;, disse o ministro, citando o tempo em que a inflação chegou ao pico de 2% ao dia naquela época, taxa anual de país desenvolvido.

Durante o encontro, o ministro ainda aproveitou para pedir aos deputados apoio para aprovar o projeto de lei complementar que cria o Regime de Recuperação Fiscal para os estados para que o Rio e outros estados com dificuldades consigam sair da atual crise financeira.

"Passado"

Ele voltou a frisar que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2016 confirma que o país passou "pela maior recessão da história", construída nos últimos anos, mas que isso é passado. "O país está começando a crescer. E vamos começar a ver os números a seguir. Por enquanto, estamos olhando para o passado. Mas estamos já em uma linha positiva", destacou.

O encontro com a bancada do PSD começou às 9h30. Às 12h30, Meirelles se reuniu com parlamentares do PRB, e, às 16h, volta ao Congresso para se reunir com os deputados do PP.