Jornal Correio Braziliense

Economia

UE mantém otimismo sobre dívida da Grécia mesmo com críticas do FMI

Depois de seis anos de resgates financeiros concedidos em troca de duras reformas, a Grécia registra o maior número de desempregados da zona euro

A União Europeia (UE) reafirmou sua posição no caso da economia grega, nesta terça-feira (7), em resposta à preocupação do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a "insustentável" dívida grega e a seus apelos aos europeus para que adotem novas medidas de alívio.

"Continuamos pensando que os compromissos firmados no [terceiro] programa [de ajuda à Grécia fechado em 2015] são críveis e ambiciosos", declarou o porta-voz do Executivo comunitário, Annika Breidthardt.

Depois de seis anos de resgates financeiros concedidos em troca de duras reformas, a Grécia registra o maior número de desempregados da zona euro, com 23% (números de outubro), longe da média que está em 9,8%, enquanto sua dívida chega a 176,9% do PIB (311 bilhões de euros).
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Os credores europeus da Grécia querem a participação do FMI no atual terceiro plano de ajuda de 86 bilhões de euros. Depois de ter tido um papel importante nos dois planos anteriores, o Fundo agora se mostra reticente, se não houver uma reestruturação drástica da dívida grega.

Segundo um informe que ainda não foi divulgado, mas ao qual a AFP teve acesso, as equipes do FMI consideram a dívida "totalmente insustentável" em longo prazo e pedem aos europeus que adotem mais ações para reduzi-la.

Este prognóstico compromete, em princípio, a participação financeira do FMI no atual programa de resgate, já que, para conceder empréstimos a um país, a instituição deve considerar que sua dívida é "viável".

Para o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, a realidade superou o "muito sombrio" informe do FMI.

"A Grécia se comporta melhor agora", disse à televisão holandesa o chefe dos 19 países do euro, ressaltando que ainda há muito a fazer em reformas, como a trabalhista e a previdenciária.

Em entrevista coletiva, o porta-voz do governo grego, Dimitris Tzanalopoulos, apontou não apenas diferenças entre o FMI e as "instituições" europeias - Comissão, Banco Central Europeu (BCE) e Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEDE) -, "mas também dentro do próprio FMI".

O enfrentamento de meses entre o FMI e os países do euro, especialmente uma Alemanha reativa a qualquer relaxamento da dívida, fez aumentar os temores sobre uma nova crise e uma eventual saída da Grécia da zona euro.

"É por isso que dissemos a todas as partes e, especialmente ao FMI, que devem parar de provocar atrasos injustificados", que bloqueiam a conclusão do exame de reformas, com as quais Atenas se comprometeu no âmbito do programa de ajuda, disse o ministro grego das Finanças, Euclides Tsakalotos.

Ainda segundo o ministro, o último informe do FMI sobre a economia grega, divulgado nesta terça, "não faz justiça" ao país, ao subestimar o crescimento e os progressos alcançados em anos de sacrifícios.

O centro da disputa é se a Grécia é capaz de alcançar um balanço primário de 3,5% do PIB, muito além do 1,5% do que o FMI considera possível.

As políticas subjacentes ao ambicioso objetivo "parecem indevidamente otimistas", apontou a entidade financeira.

"Alcançar e sustentar semelhante superávit por um período contínuo será um desafio" especialmente se se esperar que um "nível de desemprego de dois dígitos persista por várias décadas".

O documento reconheceu, porém, que há uma leve recuperação que deveria produzir um crescimento de 2,7% este ano, depois de registrar apenas 0,4% no ano passado.

O chefe do Departamento da Europa no FMI e seu principal negociador, Poul Thomsen, alertou que as consequências por aspirar a um superávit maior são sérias.

Em uma carta, Tsakalotos ressaltou que o argumento "de que a Grécia não pode sustentar superávit superior a 1,5% do PIB está em contradição com eventos recentes".

A Grécia - frisou o ministro - se move para "um estado de sólida recuperação econômica".

"Depois de anos de recessão, os primeiros sinais de um crescimento robusto, queda do desemprego e aumento da confiança na economia começaram a aparecer, e indícios de ventos de mudança estão ao alcance da mão", completou.

A informação disponível do FMI "não se apoia na mais recente evidência do desempenho fiscal, nem na mais atual evidência da habilidade da economia grega de produzir um superávit fiscal", ressaltou Tsakalotos.