Uma equipe de trabalho diversificada é essencial para qualquer empresa. Pesquisas apontam que pessoas diferentes, que entendem os gostos e preferências dos vários grupos na sociedade, tornam qualquer companhia mais apta a atender as demandas globais. Aaron Myers, vice-presidente do International Network Operations & Canada, comprovou, no estudo ;O valor da diversidade racial nas empresas;, que círculos homogêneos têm mais dificuldade de vender.
Na análise de Nelson Savioli, diretor de Recursos Humanos da Unilever, ;uma equipe só de homens, jovens, brancos, frequentadores das mesmas universidades, nas mesmas cidades, pode fazer bons produtos, mas uma equipe múltipla faz produtos excelentes e com menor custo, porque carrega muito mais informação;. Apesar das evidências, nesse aspecto, o Brasil ainda está muito atrasado.
O estudo ;Perfil social, racial e de gêneros das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas;, do Instituto Ethos, feito com a cooperação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), constata que a feição ideal de funcionário, embora o favoritismo não seja declarado abertamente, é o homem branco, em idade adulta, cisgênero, aparentemente heterossexual e sem deficiência visível. A maioria das empresas que mantêm iniciativas em favor da diversidade racial é subsidiária de companhia estrangeira, como Carrefour, Bayer, Coca-Cola e Microsoft. Em grande parte, elas assumiram o compromisso porque a matriz exigiu a criação de programas desse tipo.
Os dados confirmam que, principalmente em cargos de destaque, os negros estão em minoria, embora sejam 52,9% da população economicamente ativa e 51,9% da população ocupada. Entre as 500 maiores empresas do Brasil, 88% não têm política de igualdade de oportunidades entre negros e brancos e 85,5% não adotam medidas para incentivar e ampliar a presença de negros no quadro executivo. Os negros são 34,4% de todo o quadro de pessoal, mas, à medida que o nível de importância e responsabilidade profissional avança, eles se deparam com um processo de afunilamento hierárquico: são a maioria dos aprendizes e trainees (57,5% e 58,2%), mas apenas 6,3% dos ocupantes de cargos de gerência e 4,7% do quadro executivo. Sobre a reduzida presença de negros, 48,3% dos gestores acham que falta a eles qualificação profissional, 10,3% consideram que há falta de interesse deles por cargos e 41,4% apontam desconhecimento ou inexperiência da empresa para lidar com o assunto.
Para as mulheres negras, o quadro é ainda pior. Elas são 10,6% de todos os empregados ; 8,2% da supervisão, 1,6% da gerência e apenas 0,4% do quadro executivo, nos cálculos do Instituto Ethos. Essa situação que não incentiva a diversidade é mais uma trava, entre tantas outras, ao crescimento. O estudo The Power of Parity, do McKinsey Global Institute (MGI), aponta que o fim da desigualdade poderia adicionar até US$ 28 trilhões nos próximos 10 anos ao Produto Interno Bruto (PIB) global. Apenas no Brasil, o aumento seria de US$ 850 bilhões.
Compromisso
Uma das providências preliminares para corrigir o problema é reconhecer a efetiva dificuldade para a inclusão qualificada de negras e negros no mercado de trabalho, diz o economista Hélio Santos, da Universidade Estadual da Bahia (Uneb) e presidente do Conselho do Fundo Baobá para Equidade Racial. Ele explica que a discriminação racial aponta em duas direções: a ocupacional, quando se questiona a capacidade do negro, e a da imagem, no caso em que ele é excluído do perfil idealizado pela empresa. ;O conceito contemporâneo de desenvolvimento deve pontuar quais são os beneficiários do crescimento econômico e não pode perder de vista o custo de oportunidade que se paga por desperdiçar talentos;, afirma Santos.Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, salienta que a sociedade global tem um grande desafio. ;A igualdade está relacionada à erradicação da pobreza, uma meta da Organização das Nações Unidas (ONU). O Brasil, em conjunto com 190 países, se comprometeu a eliminar a pobreza até 2030. As empresas geram dois terços da riqueza mundial. Por isso, têm que se envolver nesse compromisso. Está na mão delas decidir os caminhos da diversidade;, frisa. Ao contrário do que pensa a maioria, crises econômicas são preciosas oportunidades para construir um futuro sustentável. ;A hora de apertar o cinto é também o momento de investir em políticas sociais para que o Brasil tenha mão de obra qualificada e valorizada para enfrentar a concorrência no mercado mundial;, diz Abrahão.
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