Ter casa própria é o sonho de milhões de brasileiros, e o aposentado Vicente de Jesus Ribeiro, 63 anos, recorreu a um empréstimo consignado para iniciar a obra no terreno que já tinha. O primeiro empréstimo que contratou foi de R$ 5 mil para comprar material para a construção. Ele pagará a última parcela de R$ 700 em fevereiro, mas já se programa para renovar o financiamento porque a obra ainda está longe do fim. Com um benefício garantido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de apenas R$ 2,5 mil, Ribeiro reclamou que não consegue pagar as contas somente com a aposentadoria. Para complementar a renda e tentar manter o ritmo da obra, trabalha como motorista. ;Tenho várias despesas. Só o dinheiro da aposentadoria é pouco para sobreviver, mesmo se eu não estivesse construindo. E, para terminar a casa, vou precisar fazer outro empréstimo consignado;, comentou. Ribeiro é um dos milhões de beneficiários do INSS que até agosto já deviam R$ 96,7 bilhões às instituições financeiras, somente em operações consignadas, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). Nos últimos 12 meses, o estoque de crédito nessa modalidade cresceu 13,4%, a despeito da crise econômica e do aumento do desemprego. O ritmo de alta do saldo total é superior ao registrado em 2015, quando esse tipo de financiamento teve expansão de 11,3%.
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Com renda garantida, os aposentados e pensionistas da Previdência Social mantêm o apetite por financiamentos e aproveitam os juros menores do que os de outras linhas. A taxa média para essa operação, segundo a autoridade monetária, chegou a 30,3% ao ano em agosto. A Proteste, associação de consumidores, alertou que a pouca burocracia e os prazos maiores para pagamentos do consignado podem ser uma armadilha para os aposentados. Somados aos demais descontos em folha, há o risco de o trabalhador ou o aposentado receber menos da metade do salário no fim do mês. O economista Newton Marques, professor da Universidade de Brasília (UnB), explicou que o crescimento do crédito consignado de aposentados é preocupante diante do aumento do endividamento dessa categoria. ;Essa modalidade de financiamento é mais interessante pelos juros baixos, mas pode se tornar uma dor de cabeça se não for usada com sabedoria;, destacou.
Recordes
Além do crescimento das operações com crédito consignado, os brasileiros têm gastado mais com o cartão de crédito. O aumento do desemprego e o baixo nível de educação financeira levaram o rotativo do cartão a crescer 18,3% nos últimos 12 meses encerrados em agosto. Os consumidores já devem R$ 38,1 bilhões as instituições financeiras nesse tipo de financiamento que tem taxa média de juros de 475,2% ao ano. Esse é o maior percentual de série histórica. O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, destacou que essa linha de crédito, assim como o cheque especial, devem ser usadas somente em último caso, diante do custo elevado. Conforme ele, muitas pessoas são descuidadas e acabam gastando mais do que deveriam nos cartões. Com isso, não pagam toda a fatura e caem no rotativo. No caso do cheque especial, os juros em agosto chegaram a 321,1% ao ano, a maior taxa desde 1994.
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