Após o cumprimento de pelo menos duas fases da Operação Mister Hyde, a Polícia Civil e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) desconfiam que o esquema criminoso articulado por médicos e empresários do Distrito Federal deve ser bem maior do que se imaginava. Novos documentos recolhidos em diligências realizadas ao longo da semana dão pistas de que a organização lesava não só pacientes, mas também clínicas e planos de saúde. Também acredita-se que há mais profissionais envolvidos do que os sete médicos detidos ; no total, houve 13 prisões, entre empresários e funcionários.
O delegado adjunto da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco), Adriano Valente, confirmou ao Correio que o material apreendido na sexta-feira ampliará a apuração. ;As nossas equipes fizeram buscas em um depósito de prontuários antigos do Hospital Home (613 Sul) e conseguimos colher outros documentos;, afirmou. Segundo ele, os próximos passos são a continuidade da análise do farto material recolhido, assim como a oitiva de novas vítimas, que se apresentarão, a partir de amanhã, na delegacia para prestar depoimento.
O trabalho da Polícia Civil e do MPDFT aponta que os crimes foram praticados em hospitais privados do Distrito Federal, mas a corporação não exclui a possibilidade de os investigados também realizarem as fraudes na rede pública. Somente neste ano, o grupo lesou pelo menos 60 pacientes, segundo a polícia. A organização movimentou milhões de reais por meio de cirurgias desnecessárias, superfaturamento de equipamentos, troca fraudulenta de órteses e próteses e uso de material vencido em pacientes.
Desde o início da Operação Hyde (leia Linha do tempo), a Polícia Civil recebeu diversas denúncias de pacientes. As pessoas que procuraram a corporação dizem ter sido vítimas do grupo e também de outros profissionais que operam no Home. Segundo as investigações, todos os procedimentos eram feitos no Hospital Ortopédico, referência na capital. No mesmo dia, três mulheres entraram em contato com um advogado e relataram que também receberam atendimento desses profissionais. Uma das vítimas conta que ficou paraplégica após passar por uma cirurgia de hernia de disco no ano passado.
Além disso, outros alvos do esquema criminoso são os planos de saúde, que acabavam pagando mais caro por uma cirurgia desnecessária de órteses ou próteses. A propina, geralmente, era paga por depósito nas contas dos médicos ou, então, entregues em espécie. Segundo investigadores, o grupo sabia quais eram os planos de saúde que aceitariam as cirurgias com maior facilidade, pois teriam auditorias mais frágeis. Os convênios acabavam gastando até o triplo do valor por procedimentos que custam, em média, R$ 15 mil. Os nomes das operadoras não foram divulgados. A reportagem tentou contato com a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abrange), com a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e com a Agência Nacional de Saúde Suplementas (ANS), mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
Habeas corpus
A Justiça do Distrito Federal mandou soltar cinco presos na quinta-feira, durante a Operação Mister Hyde. Entre a noite de sexta-feira e a madrugada de ontem, foram liberados os médicos Henry Campos, Leandro Flores, Rogério Gomes Damasceno e Wenner Costa Catanhêde, além da empresária Mariza Martins, mulher e sócia do médico-cirurgião Jonh Wesley, da TM Medical, empresa que fornece equipamentos hospitalares, apontada pela polícia e pelo MPDFT como gerenciador do esquema. Eles conseguiram habeas corpus e devem responder ao processo em liberdade.
Os advogados de defesa de Wenner Costa Catanhêde e Rogério Gomes Damasceno entraram com o pedido, ainda na quinta-feira, alegando ausência de fundamentação da decisão. O desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) João Batista Teixeira aceitou o argumento, e a decisão de liberdade também foi estendida para outros três detidos.
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