Jornal Correio Braziliense

Economia

Cotação do dólar cai para R$ 3,17 e facilita viagens ao exterior

Moeda norte-americana atinge o patamar mais baixo desde junho de 2015 devido à expectativa de entrada de US$ 40 bilhões na economia caso o impeachment de Dilma se confirme. Cotação favorece turistas, mas prejudica exportação



O dólar atingiu o nível mais baixo desde 16 de julho de 2015, ao recuar 0,80% ontem, cotado a R$ 3,169 na venda no câmbio comercial. O dólar turismo era encontrado a R$ 3,29. Para quem vai viajar ao exterior é uma ótima notícia, tanto que o movimento nas casas de câmbio e corretoras aumentou até 40% ontem. Para as exportações, porém, o patamar abaixo de R$ 3,20 no comercial retira a competitividade dos produtos brasileiros, o que impõe ao Banco Central (BC) o desafio de encontrar um equilíbrio. Sobretudo porque o afastamento definitivo da presidente afastada, Dilma Rousseff, pode derrubar ainda mais a divisa dos Estados Unidos.

O mercado espera a entrada de US$ 40 bilhões no mercado brasileiro se o Senado confirmar o impeachment. Tanta injeção de dólares poderá levar a cotação até a R$ 2,70, especulam alguns economistas, o que obrigará o BC a intervir com mais robustez no mercado cambial. A autoridade monetária tem se limitado a fazer leilões de swap reverso, operações equivalentes à compra futura de dólares. Com isso, a desvalorização da moeda dos EUA chegou a 19,73% este ano.

[SAIBAMAIS]Para o economista-chefe da Opus Investimento, José Márcio Camargo, o país está saindo de um período de muita incerteza e, por isso, o real se valorizou. ;Houve uma melhora. A atual equipe econômica ao menos fala português, o que não ocorria no governo anterior. Isso mudou o humor do mercado. Agora, até onde vai é complicado dizer. Se o impeachment for aprovado, o real pode se valorizar ainda mais;, estimou.

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O especialista ressaltou, contudo, que a atuação do BC está correta. ;Ele está se comportando bem, acabando com o estoque de swaps tradicionais e deixando o câmbio se regular pelo mercado. Porém, se o governo não fizer as reformas para gerar o equilíbrio fiscal, a tendência é o dólar voltar a subir;, disse.

Testando o BC

Na opinião de Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, o comportamento da divisa dos EUA tem sido impulsionado pelo mercado externo. ;O Brasil está se favorecendo de uma situação de liquidez mundial e da perspectiva de que os Estados Unidos não devem aumentar seus juros a curto prazo. Claro que a visão mais positiva em relação à política interna está ajudando;, ressaltou. Rosa destacou que o impeachment está precificado. ;Não há dúvidas sobre o impeachment. Por isso, acredito que parte dos US$ 40 bilhões já estão entrando no país. O câmbio mostra isso;, assinalou.

O gerente de Câmbio da Corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, concorda. ;Só na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) entraram US$ 17 bilhões nos últimos dois meses. O investidor conservador só vai chegar depois do impeachment, mas os arrojados já estão entrando;, avaliou. Galhardo ressaltou que o BC não quer mostrar ao mercado que trabalha com uma taxa para o dólar. ;Estão testando o BC e, por enquanto, ele está fazendo só o swap reverso. Agora, se o dólar cair abaixo de R$ 3, vai ter que entrar no mercado à vista para conter a valorização do real;, apostou.

Para o especialista, a atual cotação é suficientemente boa para quem viajar e comprar a moeda. ;Se a pessoa tem tempo, eu recomendo comprar aos poucos, porque pode cair mais. Mas o dólar turismo a R$ 3,37, como hoje (ontem), aumentou a procura na Treviso em 40% na comparação com o movimento habitual. Tanto que acabou nosso estoque de moeda. O que eu vender a partir de agora, preciso esperar o fornecimento do banco na segunda para entregar na terça;, comentou.