Responsável por refazer as políticas de governança na Petrobras para tentar mitigar as irregularidades na estatal, o diretor João Elek Junior diz que a corrupção "em larga escala" acabou na empresa. Envolvida no maior escândalo de corrupção do País, a petroleira reorganizou estatuto e canais de auditoria e denúncia após a Operação Lava Jato, que revelou o esquema de desvio de pelo menos R$ 6 bilhões, segundo a própria estatal, que se diz vítima do esquema. Para o executivo, após a operação, houve avanço "institucional" e que já não há "pessoas intocáveis" na empresa e no País.
"É sofrido, mas a Lava-Jato trouxe condições para a empresa se abrir. Em dimensão nacional, tivemos mudanças enormes no cenário institucional, pessoas que alguns anos atrás seriam intocáveis estão sendo questionadas como qualquer cidadão", afirmou.
O Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, apurou que, na última semana, a estatal demitiu o ex-diretor Antonio Sérgio Oliveira Santana por irregularidades na área de RH. Em nota, a Petrobras informou apenas o desligamento de três funcionários e a aplicação de sanções a outros 17, sem identificar os envolvidos.
Em seis meses, o novo canal de denúncias da estatal registrou mais de 1.400 casos. No período, foram aplicadas 98 advertências e 69 funcionários foram suspensos, ante um total de 84 em 2015. Demissões por justa causa já somam 20 desde janeiro - o mesmo patamar de todo o último ano. Desde o início do ano, a estatal apura irregularidades em contratos da reforma do Cenpes, alvo de operação da Polícia Federal na última semana.
"Não está no crachá da pessoa ;eu faço parte do esquema;. Acho que em larga escala (a corrupção) acabou. Pode aparecer um ou outro caso? As delações sugerem que sim", afirmou o diretor. Segundo ele, sua preocupação é não disseminar entre os funcionários a percepção de que "todos são potencialmente culpados". "O número de envolvidos é pequeno, mas eles fizeram um belo estrago. É como procurar uma agulha no palheiro."
Até o momento, a companhia já recuperou R$ 309 milhões de recursos desviados, no âmbito da Lava Jato. A companhia move "dezenas" de processos contra empresas e ex-funcionários envolvidos no esquema. "O valor que queremos é o total que tivemos de perda", diz Elek. Até o momento, não houve conclusão dos processos. "É a evolução da Justiça", completa.
Internamente, entre as medidas adotadas para blindar a empresa, o executivo destaca a restrição às decisões individuais e a criação de comitês para avaliar a conformidade, estratégia e viabilidade de projetos. Além disso, o novo estatuto desenha um perfil "empresarial" para o conselho de administração e a realização de testes de integridade para executivos de carreira a cada promoção interna. O modelo adotado condiz com a nova Lei das Estatais.
"Será que a presença de pessoas muito ligadas ao governo, ao mundo político, desvirtua a empresa? Querer fazer política desenvolvimentista para o País é ótimo, mas será que a Petrobras neste momento pode fazer? Então tem de separar", diz Elek em tom de crítica à orientação da gestão petista.
Para o executivo, a medida pode "blindar" a empresa de novos casos como Pasadena. "As pessoas que vão tomar decisões estratégicas estão muito mais alinhadas com o perfil que a gente acha adequado. É assim que ao longo do tempo poderei dizer: encontramos portas abertas e fechamos." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.