Jornal Correio Braziliense

Economia

Economia japonesa deve ser uma vítima colateral do Brexit

O dólar, que antes da chegada de Abe era cotado a 81 ienes e em 2015 valia 125, na sexta-feira passada, após o anúncio do referendo,ficou abaixo dos 100 ienes

Tóquio, Japão - A agitação dos mercados após a decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia (UE) está provocando a apreciação do iene, uma má notícia para a terceira economia mundial e para a estratégia econômica do governo de Shinzo Abe. "A festa dos ;abenomics; terminou", sentenciou o líder da oposição Katsuya Okada.

A valorização do iene vai de encontro à ;abenomics;, a estratégia econômica de Abe, baseada em uma política monetária que mantenha o iene fraco, estimulando os benefícios das empresas exportadores, aumentando os investimentos, os salários e o consumo e pondo fim à deflação vivida há anos pelo Japão.

Em poucas horas, o Brexit teve um efeito devastador. O dólar, que antes da chegada de Abe era cotado a 81 ienes e em 2015 valia 125, na sexta-feira passada, após o anúncio do referendo,ficou abaixo dos 100 ienes. Segundo Tobias Harris, da Teneo Intelligence, o Brexit é mais um golpe na ;abenomics;. "Desde o início do ano o ggoverno tem tido que lidar com a valorização do yen que ameaça destruir a conquistas do ;abenomics", assegura o analista.

Antes do choque do Brexit o iene, tradicionalmente um valor refúgio, já havia se valorizado em relação ao dólar como consequência do freio no crescimento mundial e das dificuldades das economias emergentes. Agora o Brexit poderpa colocar o governo contra a parede. Nos últimos dias, tanto Shinzo Abe, como seu ministro das Finanças, Taro Aso, e o governador do Banco Central, Haruhiko Kuroda, disseram que estão muito atentos aos movimentos cambiais. Na sexta-feira passada, as autoridades disseram que vão tomar "as medidas necessárias" para frear a valorização do iene, muito prejudicial para as exportações.

Poucos dias antes, o ministro das Finanças assegurou que não vai intervir precipitadamente no mercado de divisas, como foi feito em novembro de 2011, poucos meses depois do terremoto e do tsunami de março desse ano. Uma intervenção parecida parece agora "pouco provável", segundo Takashi Miwa, economista-chefe da Nomura Securities.



O secretário americano do Tesouro, Jack Lew, repetiu em várias ocasiões, a última durante o G7 de ministros de Finanças celebrado em maio no Japão, sua hostilidade a intervenções desse tipo. "O Japão tentará provavelmente estabelecer um acordo tácito com os Estados Unidos antes de atuar unilateralmente", indica Harris, da Teneo Intelligence. Kohei Iwahara, analista da Natixis, prevê uma intervenção coordenada nos mercados dos países do G7 se a instabilidade porque "o Brexit é um risco mundial, não relacionado com o Japão".

O Banco de Inglaterra (BoE) não parece favorável a essa opção, segundo Yasunari Ueno, da Mizuho Securities. "As autoridades japonesas enfrentariam sérios obstáculos para justificar uma intervenção", indica. Outros analistas garantem que o Banco Central japonês (BoJ) poderá convocar uma reunião de urgência antes da que está prevista no final de julho.

No entanto, não há acordo sobre quais novas medidas o BoJ poderá tomar, além de ampliar ainda mais seu programa de compra de ativos, que tem tido como consequência indireta a depreciação do iene. Segundo Iwahara, o analista da Natixis, não lhe restam muitas opções "porque já possui mais 30% dos títulos do Estado japonês".

No início de junho, quando foi anunciado o aumento do imposto ao consumo, Shinzo Abe prometeu para o final do ano um plano de apoio à economia que poderia chegar 20 trilhões de ienes (aproximadamente 175 bilhões de euros). E agora poderá ativá-lo como consequência do Brexit.