O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, voltou a repetir parte do seu discurso de posse quando abordou o tema regime de câmbio flutuante. Mais uma vez, ele também enfatizou que a instituição pretende reduzir sua exposição de swaps cambiais. "O BC aprecia o regime de câmbio flutuante dentro do tripé da macroeconomia: responsabilidade fiscal, meta de inflação e câmbio flutuante. O câmbio tem que flutuar", salientou.
O BC, de acordo com Goldfajn, poderá utilizar todas as ferramentas disponíveis, mas sempre com "parcimônia" e sem interferir no regime de câmbio flutuante.
Ele voltou a dizer que poderá reduzir a exposição em swaps cambiais "em ritmo compatível com o normal funcionamento" do mercado. "Ou seja, vamos encontrar a janela de oportunidade para continuar reduzindo o estoque de swaps, quando e se for possível", pontuou.
Inflação e apoio fiscal
O presidente do Banco Central descartou a possibilidade de a instituição ter de "trabalhar sozinha", conforme questionou um jornalista, para combater a alta da inflação. "Não acredito nisso (que o BC vai ficar sozinho de novo). Há coerência da equipe econômica, todos estão trabalhando para recuperação da confiança para que economia saia de recessão. Todos estão trabalhando na mesma direção", afirmou.
Durante sua primeira entrevista coletiva, o presidente do BC disse que há uma mudança em curso. "Se você olhar a percepção dos indicadores e do mercado, isso já está embutido. Fica claro que há uma expectativa melhor para a frente", comparou.
Mais cedo, ele já havia dito que pensava no ajuste fiscal de forma mais ampla. Segundo Goldfajn, é importante mudar a percepção da sociedade sobre as contas fiscais e sobre a situação da economia. "No caso do BC, significa que, se isso mudar, se tirar a incerteza, o risco, isso vai reduzir as projeções da inflação e vai levar a um menor custo e a uma desinflação mais rápida", considerou.
Taxa de juros
O presidente do Banco Central deu grande ênfase à piora do cenário internacional e afirmou, durante sua primeira entrevista coletiva, que o quadro externo é tão importante para a instituição quanto as questões domésticas. "Vou ser claro: o risco global é relevante, desafiador", afirmou.
Goldfajn disse que o impacto do Brexit está sendo contido no curto prazo, mas que há alguma perspectiva de melhora no médio e longo prazos. "Temos dúvidas sobre o crescimento da China, da Europa....", citou. "Mesmo os Estados Unidos, que parecem ser mais robustos, parece que enfraquece um pouco. E ainda tem a política monetária, não há muita preocupação hoje com aumento de juros, é mais (dúvida) sobre o crescimento", comparou.
Quando questionado sobre se um risco maior para o mercado local seria o Brexit ou a volta da presidente afastada Dilma Rousseff, ele disse que não comentaria questões políticas. "O nosso papel é técnico", justificou. Mesmo assim, o presidente do BC afirmou que estas duas questões são "relevantes". "O interno não é necessariamente mais importante do que o externo", disse.
Para justificar sua tese, afirmou que o prêmio de risco é afetado também por fatores externos, como a perspectiva de os juros ficarem onde estão por mais tempo, o que traria mais liquidez para o Brasil. "Os fatores internos hoje são muito relevantes, mas, como qualquer economia emergente, depende dos fatores globais, sem dúvida."
Goldfajn também descartou a possibilidade de pressão do próprio Palácio do Planalto para a redução dos juros. "Não vejo dessa forma. Estamos criando condições para redução das taxas de juros e acredito que todo mundo está na acreditando que isso tem que ser feito de forma responsável. Aqui tem um consenso: estamos criando condições necessárias, (e a queda da Selic tem de ser) de forma res-pon-sá-vel", detalhou.
Sobre a mudança da expectativa de déficit primário de 2016 de 2,8% para 2,6%, o presidente do BC disse que isso ocorreu por causa da revisão para o PIB.