A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) fechou com a Argentina seu primeiro contrato de exportação de urânio enriquecido. A estatal enviará quatro toneladas de urânio enriquecido em pó na forma de UO2 (dióxido de urânio) que serão utilizados a carga inicial de combustível do reator Carem, da estatal local Combustíveis Nucleares Argentinos (Conuar). O valor do contrato é de US$ 4 milhões.
O anúncio foi feito nesta segunda-feira (20/6), pelo presidente da INB, João Carlos Tupinambá, na abertura do simpósio anual da Seção Latino Americana da Sociedade Nuclear Americana (LAS/ANS), no Rio de Janeiro. A INB enviará três lotes distintos, com teor de enriquecimento de 1,9% (1,43 toneladas), 2,6% (670 quilos) e 3,1% (2 toneladas). No caso dos dois primeiros lotes a estatal processou estoques de urânio enriquecido importado e transformou em pó. O terceiro lote foi integralmente enriquecido e transformado em pó no Brasil, na fábrica de Resende (RJ).
O contrato com os argentinos foi assinado há 15 dias, após um ano de conversas. A ideia é buscar uma parceria mais efetiva com o país, com conversas para fornecimento para a central nuclear Atucha I e de uma nova leva de urânio enriquecido para o mesmo reator. "Estamos otimizando nosso estoque. Essas ações não colocam em risco o fornecimento nacional. O importante é firmar o Brasil no cenário mundial", diz Tupinambá.
O executivo que assumiu a INB no início deste ano preferiu não atrelar a exportação ao momento delicado enfrentado pelo setor nuclear no Brasil, paralisado pelas investigações da Operação Lava-Jato envolvendo a Eletronuclear e a construção de usinas como Angra 3. "A área nuclear está em compasso de espera e a INB se insere nesse contexto", admitiu.
Atualmente a capacidade de produção de urânio enriquecido da INB só é capaz de atender a 40% das necessidades anuais da usina nuclear Angra 1, que soma 100 mil UTS (Unidades de Trabalho de Separação). A INB possui apenas seis cascatas (equipamentos necessários ao processo de enriquecimento), de um projeto que engloba dez.
Tupinambá explica que seriam necessários mais R$ 100 milhões para completar o projeto. Com a conclusão das cascatas a empresa poderia atender Angra 1 e 20% de Angra 2. Os recursos do programa de governo, entretanto, não têm chegado à INB. A estatal é, segundo Tupinambá, uma empresa com custo anual de R$ 1 bilhão. Com contingenciamentos o orçamento deve ficar em R$ 800 milhões.
O material enriquecido a ser enviado para a Argentina será transportado por terra da fábrica de Resende (RJ) até Uruguaiana (RS), com escolta da Polícia Rodoviária Federal. Caso o produto não seja exportado até a próxima semana será preciso esperar o fim das Olimpíadas, que mobilizarão o efetivo de segurança. Em prisão domiciliar por acusações de recebimento de propina na Operação Lava-Jato, o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva foi o responsável por desenvolver aqui o processo de enriquecimento de urânio através de ultra centrífugas.
Mina
O presidente da INB informou que após enfrentar problemas de licenciamento em Caetité (BA), a empresa partiu para um outro projeto. "Estamos retomando esse ano e começando a desenvolver uma nova mina", disse. A primeira mina no local se exauriu e a empresa teve problemas para licenciar um segundo projeto. Agora está optando por uma terceira via, com uma mina a céu aberto.
Em fase de licenciamento pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), a mina deve atingir sua capacidade máxima de produção, de 250 toneladas de urânio ao ano, em 2018 se tudo der certo. O projeto faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e tem orçamento estimado em R$ 182 milhões. Em 2016 serão investidos R$ 32 milhões no decapeamento da unidade e já deve haver uma produção inicial de 60 toneladas.
A INB trabalha com o início da lavra na nova mina no meio do ano que vem, quando serão necessários mais R$ 150 milhões. O Brasil tem reservas conhecidas de urânio de 300 mil toneladas, uma das maiores do mundo. Tupinambá afirma que há outras áreas a serem pesquisadas e desenvolvidas para a exploração do minério, mas que para isso seria importante flexibilizar a legislação e permitir associações com a iniciativa privada. Hoje a exploração do urânio é monopólio da INB.
"Como a INB não tem recursos, a presença de uma empresa estrangeira que pudesse aportá-los seria bem-vinda", afirma. A empresa tem uma parceria com a privada Galvani, mas em produção de fosfato com urânio como subproduto associado.