A queda de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2016 em relação aos últimos três meses de 2015, apesar de ter sido menor que o esperado pelo mercado, não é motivo de comemoração. É a quinta queda consecutiva e a economia brasileira recuou para níveis de, pelo menos, cinco anos atrás sem ter chegado no fundo do poço, avisam os analistas.
Na comparação com o mesmo período de 2015, por exemplo, o tombo foi de 5,4%, o pior resultado entre 31 países que já divulgaram seus respectivos PIBs, conforme levantamento feito pela Austin Ratings. O Brasil ficou atrás de Grécia e Rússia, que encolheram 1,2% no primeiro trimestre. E, para piorar, esse resultado na comparação interanual mostra oito trimestres de desempenho negativo do PIB brasileiro, ou seja, praticamente dois anos de recessão, nada que possa ser festejado.
Diante desses dados e das incertezas políticas que persistem, apesar de a nova equipe econômica ser bastante elogiada pelo mercado, não há consenso sobre o início da recuperação diante dos riscos políticos que ainda persistem. Os mais pessimistas não acreditam que haverá uma retomada nos próximos trimestres como prevê o Ministério da Fazenda. Em nota, o órgão atribuiu o resultado ruim à gestão anterior e destacou que ele é ;essencialmente contaminado por desenvolvimentos domésticos;.
Os mais otimistas acreditam nessa retomada a partir do último trimestre deste ano, somente se o governo do presidente interino, Michel Temer, conseguir executar medidas de ajuste fiscal e de contenção de gastos púbicos adicionais às já anunciadas, que são muito tímidas. Só assim ele conseguirá restaurar a confiança perdida durante a gestão de Dilma Rousseff, afastada desde o último dia 12 de maio.
Com Temer continuando no poder, as estimativas de queda do PIB neste ano variam em torno de 3,8% a 4,3%. No entanto, se Dilma voltar, uma possibilidade não descartada totalmente pelos analistas, o tombo do PIB deverá aumentar, podendo chegar a até 6% neste ano, como prevê a Tendências Consultoria. ;Em termos de dinâmica, o resultado do PIB é muito ruim. Na margem, apenas dá para ver que o fundo do poço está se aproximando e que o segundo trimestre ainda deverá ser de contração forte;, alertou Alessandra Ribeiro, economista-sênior da Tendências. Pelas contas da especialista, o estrago na economia nos últimos anos de governo Dilma foi tão grande que, mantida as atuais condições de ;temperatura e pressão;, em 2020, o PIB voltará ao nível de 2013. ;Vamos ter pelo menos uma década perdida;, lamentou.
A soma de todas as riquezas produzidas pelo país foi de R$ 1,473 trilhão no primeiro trimestre. A queda de 0,3% no PIB só não foi maior porque o consumo do governo ajudou a minimizar o tombo ; cresceu 1,1% na mesma base de comparação. Os principais motores da economia, os investimentos e o consumo, encolheram 2,7% e 1,7%, respectivamente, ajudando a indústria recuar 1,2%. Até a agropecuária, que costuma salvar o PIB no trimestre, com o início da safra, caiu 0,3%.
Pior da história
No acumulado de quatro trimestres, a retração do PIB foi de 4,7%, a maior da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 1996. ;Esse resultado superou a queda recorde de 3,8% no ano e 2015. E essa retração foi puxada fortemente pelo recuo do consumo das famílias e dos investimentos;, explicou o economista Rodrigo Ventura, pesquisador do IBGE. Ele lembrou que os investimentos estão caindo há 10 trimestres consecutivos e isso fez com que a taxa de investimento chegasse ao seu menor patamar da história: 16,9%.
A economista Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, em Washington, avaliou que os principais indicadores do PIB continuam muito ruins e, por isso, a recuperação não deverá ocorrer neste ano, muito menos em 2017. Pelas contas dela, o retrocesso da economia é tão grande que o nível de investimentos é o menor desde 2009. ;O consumo também retrocedeu ao nível do início de 2011, no começo do governo Dilma;, completou.
Já o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, é mais otimista e prevê ;recuperação mais rápida do que se imagina;. Ele acredita que o PIB pode encolher 3,3% em vez de 4,1%, como previa anteriormente. ;Para 2017, mantemos a expectativa de alta de 2%, mas a chance de uma surpresa positiva é muito grande;, afirmou. ;É preciso ficar claro apenas que a Dilma não voltará; caso contrário, o cenário será muito pior;, completou.
Na avaliação do economista-chefe da Austin, Alex Agostini, o governo Temer precisa fazer mais ajustes do que anunciou para recuperar a confiança dos investidores e dos consumidores. Ele considera que o país ;está na UTI; e prevê queda de 3,81%, neste ano. Apesar de esperar alta de 0,55% no ano que vem, Agostini tem dúvidas se isso realmente poderá ocorrer, dadas as incertezas na área política.
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