Os investidores e analistas em Wall Street veem um governo de Michel Temer com alívio, mas também com cautela. A expectativa é que o presidente em exercício tome medidas econômicas amigáveis ao mercado e os nomes da equipe econômica agradaram. Os analistas, porém, alertam para os riscos das investigações da Operação Lava-Jato envolver mais políticos em Brasília, o que pode dificultar a governabilidade, e de uma oposição barulhenta do PT.
O processo de impeachment de Dilma Rousseff tem tido ampla repercussão nos Estados Unidos, com matérias regulares nas principais redes de TV e nos dois maiores jornais do país, o The New York Times e o The Wall Street Journal. O Brasil é um dos principais destinos para aplicações de recursos dos investidores dos EUA em países emergentes e o mercado vem acompanhando o processo com atenção.
Os dados mais recentes do Instituto Internacional de Finanças (IIF), instituição com sede em Washington formada pelos maiores bancos do mundo, mostram que o apetite dos investidores pelo Brasil aumentou nas últimas semanas, na expectativa de que a saída de Dilma leve o Brasil a conseguir ajustar a economia e impedir novos rebaixamentos do rating soberano. A recessão foi exacerbada pelos problemas políticos e o investidor global se animou com a perspectiva de mudança de regime, avalia o economista do Scotiabank, Pablo Bréard.
O gestor da Janus Capital, Dan Raghoonundon, disse estar mais otimista com Temer do que jamais esteve com a gestão Dilma. Ele acredita que o peemedebista conseguirá avanços com um ajuste fiscal, principalmente porque a gravidade da deterioração das contas públicas demanda uma ação rápida. "Os próximos 100 dias do governo serão críticos", disse ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, destacando que Temer tem dado declarações em que mostra compreender a gravidade da situação do país. "Temer tem mostrado entender que o excessivo gasto público e os déficits são parte do problema, não dá solução, como alguns membros do governo Dilma acreditavam."
Para o economista-chefe do PNC Financial Services Group, Stuart Hoffman, a expectativa é que o governo Temer comece já com medidas de ajuste fiscal, em uma tentativa de corrigir a trajetória de piora de um dos principais indicadores de solvência do país, o que mede a relação entre a dívida bruta e o Produto Interno Bruto (PIB), previsto para chegar a 80% em 2017. Mas Hoffman também alerta para "substanciais riscos políticos" no país, mesmo com a saída de Dilma.
"Com planos para reduzir o gasto do governo e fazer mudanças na previdência e outras reformas, o governo de Temer pode ser o que o Brasil precisa neste momento", afirma o economista-chefe da Northern Trust, Carl Tannenbaum. "O Brasil precisa mais do que nunca de reformas", completa, mas alertando para o risco de que o próprio Temer pode ser alvo de investigações da Lava-Jato, caindo na "mesma teia" que prendeu outros políticos envolvidos no governo de Dilma.
A Operação Lava-Jato, aliás, é apontada pela consultoria de risco político Eurasia e também por vários economistas e agências de rating como uma das maiores ameaças ao governo de Michel Temer. Na avaliação da Eurasia, o avanço das investigações pode inclusive implicar o peemedebista, além de mais membros de seu partido, dificultando a governabilidade e trazendo mais incertezas. Para a diretora da Fitch Ratings, Shelly Shetty, a Lava Jato traz riscos imprevisíveis para a política e a economia brasileira nos próximos meses.
Se a Lava-Jato preocupa, a provável equipe econômica de Temer, como Henrique Meirelles na Fazenda, e o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, no Banco Central, agrada os analistas. O banco de investimento Brown Brothers Harriman (BBH) aponta que Meirelles tem "respeito do mercado" e Shelly, da Fitch, destaca que são nomes com experiência e que uma equipe econômica forte é essencial para se conseguir uma coalização no Congresso e aprovar medidas, algumas impopulares, para o ajuste fiscal. "Fiquei bastante animado com a equipe sinalizada até agora", diz Raghoonundon, da Janus.