Uma eventual queda da Selic tem impacto neutro para os ganhos do Itaú Unibanco, na medida em que a fatia de ativos aplicados em títulos públicos é pequena, de acordo com Eduardo Mazzilli de Vassimon, vice-presidente executivo da instituição. Poderia, contudo, proporcionar melhores condições de crédito para indivíduos e empresas, uma vez que reduziria o custo dos empréstimos. "Vemos impacto positivo para as condições de crédito", afirmou ele, em teleconferência com analistas e investidores estrangeiros nesta quarta-feira (4/5).
O impacto nos ganhos dos bancos com a Selic com uma menor rentabilidade dos ativos aplicados em títulos públicos e que rendem juros é neutro, na medida em que o reflexo das taxas altas nos calotes pode consumir todo um possível ganho que essas instituições teriam com as aplicações. Isso porque a fatia dos recursos dos bancos que são aplicados em títulos públicos, como, por exemplo, os depósitos compulsórios, é menor que as carteiras de crédito, nas quais o banco corre o risco da inadimplência e cuja trajetória é de alta em meio aos juros elevados e à crise política e econômica no País.
O Itaú Unibanco espera que a Selic encerre o ano em 12,25%, ante os 14,25% atuais. Para 2017, a expectativa do banco é de taxa de 10,00%.
Demais projeções
A área econômica do Itaú Unibanco está revisando suas projeções, mas o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter crescimento de cerca de 1% no próximo ano. "Não temos visto sinais de melhora, mas a estabilização de alguns indicadores. Parou de piorar, o que é positivo visto que é o primeiro passo para a melhora", disse Vassimon.
Segundo o executivo, o Itaú Unibanco segue monitorando os vários indicadores econômicos. "A economia brasileira deve ter queda semelhante à do ano passado, mas com possível estabilização do cenário econômico e recuperação da confiança podemos ter elevação de investimentos e redução do ritmo do crescimento do desemprego", avaliou Vassimon, acrescentando que o desemprego deve continuar a crescer, mas em um ritmo menor, atingindo seu pico no início do próximo ano bem como o índice de inadimplência
O executivo disse que o Itaú não adotou restrições adicionais na concessão de crédito, mas que segue monitorando o cenário "muito de perto". Especificamente no segmento de cartões de crédito, afirmou que o banco adotou um conservadorismo maior que explica os números do primeiro trimestre. "Com um pouco mais de confiança no cenário econômico, poderemos ajustar critérios de crédito para permitir expansão da carteira para a qual estaremos preparados, inclusive, com base de capital."
Provisões
O volume de provisões do Itaú Unibanco no atacado, que praticamente dobrou nos três primeiros meses deste ano, deve cair no próximo trimestre, uma vez que o movimento feito tem caráter antecipatório, segundo Vassimon. Já para o varejo é esperada, conforme ele, alguma elevação, mas ainda assim a tendência é de queda líquida do indicador no próximo trimestre e também ao longo de 2016.
"Não vemos o grande volume de provisões que fizemos no primeiro trimestre como uma tendência. Provisão tem caráter antecipatório", destacou Vassimon, lembrando que o maior colchão feito no trimestre foi do setor de atacado.
O executivo reforçou que as PDDs constituídas no primeiro trimestre não estão concentradas em um único cliente, mas há vários nomes de setores como óleo e gás, construção. "A elevação das provisões no atacado de cerca de R$ 1,4 bilhão não está concentrada em um nome, não. São alguns nomes. É claramente um elemento de antecipação. Estamos bastante confortáveis com o atual nível de provisão", acrescentou.
Embora não tenha citado clientes específicos, o Itaú é um dos credores da Sete Brasil, empresa criada para a construção de sondas para exploração de petróleo do pré-sal e que entrou com pedido de recuperação judicial na semana passada. O banco tem um crédito de R$ 1,9 bilhão com o grupo.
Sobre os números do primeiro trimestre, Vassimon afirmou que o resultado do Itaú Unibanco foi "bastante razoável" diante do momento atual. Acrescentou ainda que a grande queda da carteira de crédito e o aumento dos calotes estão compatíveis com o atual ambiente econômico.
Agressividade
O Itaú Unibanco não seguirá a maior agressividade em preço de alguns competidores no setor de adquirência, segundo o diretor de Controladoria Corporativa e de Relações com Investidores, Marcelo Kopel. "Queremos negócio rentável e sustentável em adquirência. Tamanho é importante, mas rentabilidade é tão ou mais relevante. Não estamos acompanhando maior agressividade, nem vamos acompanhar", afirmou ele, em teleconferência com analistas e investidores.
[SAIBAMAIS]A resposta de Kopel foi a questionamentos de analistas a respeito do desempenho da Cielo, líder do setor e principal concorrente da Rede (ex-Redecard), no primeiro semestre, cujo volume capturado cresceu 10,2% ante o mesmo período do ano passado. Ele lembrou que a própria companhia já informou que o resultado do intervalo não deve se repetir nos próximos trimestres e que é natural a mudança no market share por conta da migração de grandes contas.
"Estamos trabalhando junto a clientes para aprofundar o relacionamento e estamos crescendo penetração. Vai ter flutuação (no share). É natural não no pequeno cliente, mas por conta de grandes contas que mudam share", explicou Kopel.
Em conversa com analistas e com a imprensa, na terça-feira, o presidente da Cielo, Rômulo de Mello Dias, explicou que a adquirente perdeu grandes contas no primeiro trimestre em meio à agressividade da concorrência em taxas e que algumas ainda não migraram; por isso, o volume do período não deve se repetir nos próximos. Parte dessa migração, conforme ele, já ocorreu em abril e o restante deve se materializar no segundo trimestre.
A Cielo capturou R$ 139,5 bilhões em transações de cartões de crédito e débito em suas máquinas de cartões (POS, na sigla em inglês) no primeiro trimestre de 2016, montante 10,2% superior na comparação com o volume registrado em um ano. Já a Rede (ex-Redecard) cresceu seu volume em 1,95% ante um ano, para R$ 92,898 bilhões, enquanto o Santander, por meio da GetNet, teve volume financeiro de R$ 22,793 bilhões, montante 24% maior.