Um dia após a Câmara aprovar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o otimismo registrado pelo mercado financeiro nas últimas semanas, com uma queda acentuada do dólar e altas sucessivas da bolsa, se transformou em cautela. Na segunda-feira, 18, a moeda americana fechou em alta de 2,24%, cotada a R$ 3,6054. Na semana passada, havia recuado 1,97%. A Bovespa, por sua vez, fechou em queda de 0,63%, aos 52.894 pontos.
O movimento de segunda do mercado, no sentido inverso ao das últimas semanas, se deve à realização de lucros por parte de investidores. Para os analistas, o mercado financeiro vai viver uma fase de grande volatilidade, enquanto não se confirmar, de fato, a saída de Dilma, o que ainda depende de votação no Senado
Segundo o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, na visão do mercado, Dilma é a presidente de direito, mas não a de fato, enquanto a Temer cabe o papel oposto "Nesse período, os dois ficam com capacidade limitada de fazer frente aos desafios", disse. "O detalhe é que Temer não pode montar e anunciar uma equipe agora. Até meados de maio, tudo vai ser especulação, o que é um campo aberto para a volatilidade."
Juan Jensen, economista-chefe da 4E Consultoria, diz que, mesmo com o avanço do impeachment, a instabilidade persistirá até a decisão do Senado, que pode ocorrer até 180 dias após a primeira votação do tema na Casa. "Para o julgamento final no Senado, Dilma precisa de apenas um terço dos senadores para se manter no cargo. Se a votação fosse hoje, haveria uma incerteza bem maior que a de domingo sobre se o impeachment seria aprovado", disse, ponderando que até lá, a situação pode mudar bastante.
Para ele, após Temer assumir a Presidência, a instabilidade até pode diminuir à medida que ficar mais claro que as chances de ele ser removido do posto diminuam.
Na avaliação de Alex Agostini, economista-chefe da agência de risco Austin Rating, o impeachment de Dilma é bem visto pelo mercado financeiro, mas não garante a retomada da confiança dos investidores. "A sinalização tende a ser positiva. O mercado vai dar mais um voto de crédito. Mas o governo precisa fazer reformas", disse.
Segundo ele, a expectativa é que o trâmite do processo de impeachment no Senado tenha placar mais apertado do que teve na Câmara. Mas, uma vez aprovado, o novo governo teria de sentar numa roda de negociação com líderes de todos os partidos apoiadores do processo, mostrando coesão em torno de um novo projeto para o País.
Exterior
Investidores estrangeiros também mostraram cautela na segunda com o processo de impeachment. Analistas entendem que a aprovação na Câmara no domingo e a expectativa de que o Senado fará o mesmo geram a sensação de virada de página. Os ativos financeiros, porém, já haviam antecipado boa parte desse movimento.
Assim, a retomada do otimismo amplo só deve vir quando os agentes econômicos tiverem confiança de que um eventual governo Temer será capaz de avançar com a agenda de reformas defendida pelos investidores há tanto tempo.
"Os problemas continuarão lá esperando uma solução", diz um analista brasileiro que trabalha para um banco europeu.