Se as estatísticas gerais de desemprego no Brasil estão hoje em cerca de 9%, a situação parece ainda mais difícil para os profissionais que atuam em cargos de média e de alta gestão. Levantamento da consultoria de recursos humanos britânica Hays, em parceria com a ESPM, aponta que 20% dos analistas, gerentes e presidentes de empresas instaladas no País chegaram ao fim de 2015 desempregados. O dado é o mais alto da série histórica, iniciada há cinco anos, e mostrou que o total de profissionais sem vagas nos mais altos níveis hierárquicos mais do que dobrou em um ano.
O estudo ouviu 3,2 mil executivos de 400 empresas de grande, médio e de pequeno portes pelo Brasil, com concentração de 83% das respostas na região Sudeste. O universo dos entrevistados contemplou 32% de analistas e especialistas, 53% de coordenadores e gerentes e 15% de diretores e presidentes.
Salários
O estudo mostrou também que, entre os entrevistados que se mantiveram no emprego, sete em cada dez tiveram perda real de salário no ano passado. Segundo a pesquisa, 72% tiveram aumento salarial de até 10% - abaixo do acumulado da inflação oficial, de 10,67%. Em 2014, 46% dos entrevistados haviam tido perdas salariais.
Na opinião da gerente sênior da Hays, Caroline Cadorin, os dados só vieram confirmar o que o mercado já sentia na prática. "É a realidade que a gente sente no nosso dia a dia. Essa é uma pesquisa que representa bem a realidade nacional e, no ambiente corporativo, mostra o movimento de corte de empregos e redução de custos para tentar contornar a crise."
Além da taxa de desocupação, Caroline chama a atenção para uma movimentação que a executiva considera atípica dentro das corporações, marcada sobretudo por um rearranjo organizacional. "A gente capturou um movimento de ;juniorização; de profissionais. Algumas empresas cortaram posições ocupadas por profissionais sênior para substituí-los por funcionários menos experientes, que ganham menos", diz Caroline.
Ao longo de 2015, 37,18% dos profissionais demitidos tinham acima de 51 anos. "Mas a estratégia teve seu preço. Algumas empresas observaram que a ;juniorização; traz uma economia imediata, mas não se sustenta no médio prazo", diz a especialista, que já observa um retorno na procura por profissionais mais experientes para algumas vagas em aberto.
Outra tendência, apontou a Hays, foram os acúmulos de função. "O que percebemos é que o mercado teve muita movimentação lateral, pessoas assumindo mais áreas, mas sem reflexo no aumento de salário", ressalta a gerente da Hays.
Benefícios
Para compensar a falta de atratividade dos programas de remuneração, as empresas têm ampliado benefícios. Segundo Gabriel Vouga Chueke, coordenador do Observatório das Multinacionais Brasileiras da ESPM, a pesquisa retrata o retorno de algumas políticas, como a de oferta de carros corporativos. "Houve um curioso aumento de 26% de oferta de carros corporativos entre 2014 e 2015. O trabalho remoto também cresceu bastante: 10%."