A queda da conta de luz e do dólar são os principais fatores que têm puxado para baixo a inflação. O agravamento da recessão econômica, no entanto, só deve produzir efeitos sobre os índices de preços a partir do segundo semestre, de acordo com economistas ouvidos pela Agência Brasil. Os especialistas mantêm a previsão de que, apesar do recuo, a inflação fechará 2016 acima do centro da meta pelo segundo ano seguido.
Ontem (8), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou março em 0,43%, a menor taxa para o mês desde 2012. No acumulado em 12 meses, o índice está em 9,39%, abaixo de dois dígitos pela primeira vez desde outubro.
Segundo os especialistas, a queda da inflação já era esperada, depois de o índice atingir o pico de 10,71% nos 12 meses terminados em janeiro. ;O principal fator é o fim do impacto dos aumentos de preços como combustíveis e energia. Isso porque os preços administrados respondem por um quarto dos índices oficiais de preço;, explica o economista André Braz, responsável pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
De acordo com Braz, a queda do dólar também interfere na inflação, mas em grau menor. O agravamento da recessão, no entanto, ainda não surtiu efeito sobre os índices. ;Os preços de bens duráveis ainda não começaram a cair. Os preços dos serviços livres pararam de acelerar, mas ainda estão subindo. Somente quando esses preços começaram a cair para conquistar consumidores, poderemos dizer que a recessão contribui para a queda da inflação;, diz.
Acima da meta
Para o economista da FGV, somente a partir de junho existem chances de que a retração da atividade econômica ajude a diminuir a inflação. Com a mudança da bandeira na conta de energia, Braz estima redução de 7,4% para 7,2% da expectativa de inflação pelo IPCA para este ano. A estimativa é um pouco mais otimista que a das instituições financeiras, que projetam inflação oficial de 7,28% em 2016, segundo o Boletim Focus, pesquisa semanal divulgada pelo Banco Central.
Professor de Finanças do Ibmec no Distrito Federal, Marcos Sarmento Melo diz que ainda é difícil cravar um percentual de quanto a inflação oficial fechará o ano. Ele, no entanto, aconselha os consumidores a não se iludirem em relação à queda dos preços. ;Mesmo com a recessão e a queda do dólar agindo para conter a inflação, esse processo só começará a ser sentido nos próximos meses. O fato é que a inflação ainda está alta e com grandes chances de fechar acima do teto da meta [de 6,5%];, alerta.
Para Melo, existe a possibilidade de que a queda do dólar, que caiu 10,2% em março e 0,15% em abril, seja apenas temporária. ;Caso o Banco Central dos Estados Unidos aumente os juros e a China continue a desacelerar, o câmbio voltará a ser pressionado para cima. Os efeitos da crise política sobre o dólar já estão precificados [incorporados à expectativa], e o ambiente externo não é favorável;, adverte.
Consumidores sentem pouco
Apesar da queda da inflação, os consumidores ainda sentem pouca diferença no bolso. ;Os preços de alguns alimentos caíram, mas continuam maiores que no ano passado. Percebi uma redução no valor da conta de luz, mas nada significativo;, diz o funcionário público George Wellington Gouvea, 57 anos. Mesmo com a redução recente nos preços da comida, o subgrupo alimentos e bebidas acumula alta de 13,27% em 12 meses conforme o IBGE.
Para quem viu o orçamento encolher nos últimos meses, a inflação continua a corroer o poder de compra. ;Os preços só têm aumentado, e a conta de luz, para mim, permanece a mesma;, afirma o desempregado Fábio Rubens, 35 anos. A aposentada Creuza Medeiro Gomes, 68 anos, ainda não percebeu queda nos preços dos alimentos. ;Ainda está difícil encher a dispensa. Tem gente passando fome. A minha conta de energia até agora não caiu;, conta.