São Paulo ; O Brasil tende a ser acostumar com períodos de bonança, assim como outros países emergentes, e acaba tendo dificuldade para perceber a aproximação de épocas de retração, alerta o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn.
Pior ainda, quando identificada a queda, ela resulta frequentemente em diagnósticos errados. No fim do governo Lula e durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, houve estímulos que não trouxeram resultados esperados e elevaram gastos públicos. Na avaliação do economista, é preciso um debate sério e um acordo sobre o tamanho que o Estado deve ter. ;Se a sociedade tem hoje ojeriza a aumentar imposto, então tem de ter ojeriza ao excesso de gastos;, avisa.
Caso se façam reformas, como a da Previdência, os resultados virão rapidamente na forma de retomada de investimentos. A paralisia, por outro lado, além de elevar os problemas sociais, pode levar o país a ficar vulnerável a uma crise mais grave. Ilan Goldfajn foi diretor do Banco Central no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Permaneceu no cargo até meados de 2003, já no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Não só no Brasil, nas economias emergentes tende-se a achar que o boom é permanente e que a queda é temporária, quando na verdade o ideal é pensar o contrário: que os períodos de vacas gordas não vão ser para sempre e que as quedas, quando vêm, exigem ajuste.;
É possível contar com mudanças de política econômica neste ano?
Não se sabe, pois há dificuldades políticas e fiscais. As medidas que precisam ser tomadas não são populares. Há uma grande incerteza.
É possível reverter o deficit primário?
Há possibilidade de reduzir, mas não há condições de mudar tudo de um ano para o outro, devido à queda da arrecadação, às despesas obrigatórias que sobem. É possível ir melhorando devagarzinho.
Em qual ritmo?
O melhor possível. Precisamos chegar a um superavit primário de 2% a 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Hoje temos um deficit de cerca de 1,5%. Então, estamos falando de um ajuste de 4% do PIB. O mais rapidamente que pudermos chegar, lá será melhor.
Qual o horizonte razoável para fazer isso?
Pelo menos dois ou três anos.
O ajuste realizado no ano passado é considerado por críticos como a razão para a economia ter desandado. Qual sua avaliação?
Acho que isso é culpar o médico pela doença, que vem lá de trás e ninguém faz nada. O paciente chega muito debilitado e o médico consegue fazer com que ele reaja. Mas acabam culpando o profissional por ele não ter feito a pessoa sair saltitando. A gente tem de culpar é a falta de prevenção anterior. O ajuste no ano passado foi imperfeito, porque falta apoio político, força para tomar as medidas necessárias. Não vai ser fácil andar para frente.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.