Jornal Correio Braziliense

Economia

Financiamento ao consumidor deve ter 2º ano de queda real

Dados do início do ano já indicam que 2016 será de recuo no financiamento ao consumidor

Principal alavanca do consumo, o crédito para o consumidor deve voltar a recuar este ano, como aconteceu em 2015. Segundo analistas, a recessão e o aumento do desemprego reduzem a confiança do consumidor para assumir financiamentos e dos bancos para conceder novos empréstimos, num cenário de juro alto e de inadimplência crescente. "O ano de 2016 será um dos piores para o crédito ao consumidor", prevê o diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fabio Silveira. Essa também é a avaliação do presidente da Acrefi, associação que reúne as financeiras, Érico Ferreira, e de Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, especializada em análise de crédito.

[SAIBAMAIS]Nas contas de Silveira, a retração no saldo das operações de crédito ao consumidor com recursos livres, que incluem cheque especial, crédito pessoal, cartão de crédito, veículos e outros bens deve encerrar o ano com queda de 7%, descontada a inflação. O saldo da carteira de crédito ao consumidor com recursos livres terminou 2015 em R$ 793 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC).

Se as projeções se confirmarem, em dois anos - 2015 e 2016 - o tombo no crédito ao consumidor será de 15%, em termos reais. "É queda sobre queda", ressalta Silveira. Ele observa que esse desempenho ruim tem desdobramentos na atividade e pode derrubar a economia mais uma vez em 2017. O economista sustenta essa previsão no fato de que o recuo no crédito ao consumidor registrado no ano passado foi responsável por quase a metade da retração de 4% do consumo das famílias no Produto Interno Bruto (PIB) de 2015.

Dados do início do ano já indicam que 2016 será de recuo no financiamento ao consumidor. Por ora, a cautela no crédito é maior por parte de quem empresta do que do consumidor, que também tem receio de se endividar.

Segundo cálculos feitos a partir de dados do BC, em janeiro o volume de concessões de crédito livre voltado ao consumidor caiu 17,5% ante igual mês de 2015, descontada a inflação do período. Enquanto isso, a demanda por crédito apurada pela Serasa Experian, que mede o número de solicitações de consumidores - aprovadas ou não - teve retração de 2,6% ante janeiro de 2015. "A oferta de crédito por parte do bancos está tendo uma queda brutal, se comparada com a procura por parte dos consumidores, que também encolheu", diz Rabi, da Serasa Experian.

O medo de emprestar e não ter o dinheiro de volta fez as instituições financeiras não só ficarem mais rigorosas na aprovação de financiamentos, mas também embutirem um risco maior de calote nas taxas. Rabi observa que o spread (diferença entre o custo de captação e de empréstimo do financiamento), teve forte alta nos últimos 12 meses. Em janeiro de 2015, o spread estava em 39,9% ao ano e subiu para 53,3% no mesmo mês de 2016, aponta o BC. A diferença de 13,4 pontos porcentuais supera de longe o aumento da inadimplência do consumidor, que subiu quase um ponto porcentual entre janeiro de 2015 e o mesmo mês deste ano, de 5,3% para 6,2%. O calote é um dos componentes do spread bancário.

O Itaú Unibanco, um dos maiores bancos privados do País, por exemplo, informa, por meio de nota, que diante desse cenário passou a priorizar produtos com menor perfil de risco, como financiamento imobiliário e crédito consignado e confirma que "no ambiente atual de desaceleração, a demanda por crédito é menor".

Veículos
aso do crédito para veículos, as concessões para compra de carro usado devem recuar cerca de 40% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2015, prevê o presidente da Acrefi. Segundo Ferreira, 50% da retração do crédito ocorre por causa da queda na procura e a outra metade porque os bancos estão mais rigorosos na aprovação dos financiamentos. "Antes, de cada 100 solicitações para carro usado 25 eram aprovadas. Hoje, 15 têm sinal verde."

Em 2015, o saldo para crédito de veículos caiu 9% em termos nominais e para este ano Silveira prevê retração de 10%. Para comprar o carro zero, os brasileiros estão trocando os financiamentos por consórcio. Em 2015, foram vendidas quase 1 milhão de cotas de consórcio, volume 11,1% maior do que em 2014, segundo a Abac, associação que reúne as administradoras de consórcios. "Estamos na contramão da crise", diz o presidente da Abac, Paulo Rossi.

Com o orçamento apertado, o brasileiro substituiu o imediatismo do financiado pelo consórcio, que requer espera para levar para casa o carro com um custo menor.