Jornal Correio Braziliense

Economia

Alta no desemprego: Brasil fecha 204,9 mil vagas em dois meses

Caged registra o pior fevereiro desde 1992, com o fim de 104,5 mil empregos formais. Esse foi o 11º mês em que os desligamentos superaram as contratações


O Brasil fechou 104,5 mil empregos formais em fevereiro, o pior resultado para o mês da série histórica, iniciada em 1992. Em 12 meses, as demissões superaram as contratações em 1,7 milhão. No acumulado do ano, foram destruídas 204,9 mil vagas com carteira assinada contra 84,3 mil em 2015. Para se ter ideia da gravidade do quadro, vale registrar que em fevereiro do ano passado foram extintos 2,4 mil postos de trabalho. Os dados foram divulgados ontem no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS).

;Se o mês que vem for negativo de novo, estamos caminhando para uma série inteira negativa. O último mês que apresentou resultado positivo foi março do ano passado;, destacou Rodolfo Peres Torelly, especialista em mercado de trabalho. ;Temos menos emprego com carteira assinada do que em fevereiro de 2013. Mas, mesmo assim, ainda não chegamos ao fundo do poço. Há um estoque de 39 milhões de empregos formais. Nesse ritmo, com os números praticamente dobrando de um período para outro, acredito que ficaremos perto de 3 milhões de desempregados até o fim do ano;, projetou.

O professor de economia da Universidade de Brasília Carlos Alberto Ramos não tem dúvidas de que março ficará no vermelho e o mercado de trabalho ainda vai piorar. ;Com a recessão se aprofundando, a tendência é de que as empresas demitam. No ano passado, a crise não estava tão disseminada como agora. Uma queda na faixa de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) não cria condições para gerar emprego. A crise, em termos anualizados, não poupou ninguém;, sintetizou.

Setores


Em fevereiro, sete dos oito setores registraram fechamento de vagas. O comércio liderou o corte de postos, com 55,5 mil pessoas mandadas para casa. Já a indústria fechou 26.187 vagas de trabalho. Apenas o setor de administração pública criou empregos: 8,5 mil. ;Essa criação de emprego é sazonal. É a época de contratação de professores para a rede de ensino. Mas, só no ano passado, esse setor fechou 13 mil postos;, explicou Ramos. Ele ainda destaca que agricultura é o único segmento que está no azul, mas que não é representativo para a criação de empregos. ;Não obstante o dinamismo da agricultura, tem pouca demanda para a mão de obra. No ano passado, foram criadas 10 mil vagas no total. Para efeito de comparação, a administração de imóveis cortou 208 mil trabalhadores, ou seja, um subsetor da construção demitiu 20 vezes mais do que foi contratado na agricultura. A construção civil demitiu 400 mil o ano passado;, definiu Ramos.

E os números se traduzem em desespero quando a procura leva a nada. É o caso da estudante do segundo ano de engenharia civil Iara do Vale, 19 anos. Ela conta que sempre gostou de matemática e escolheu estudar engenharia por causa do boom imobiliário dos últimos anos. Mas se frustrou na procura por estágio ou emprego na área, sem obter resultado. ;As empresas não estão aceitando nem receber currículo. Alegam que não sabem nem como cobrir a folha de salário dos que ainda estão empregados e dizem que os impostos estão muito altos, sem renda suficiente para pagá-los;, contou desiludida.

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