Jornal Correio Braziliense

Economia

Rebaixamento torna ainda mais difícil a retomada do crescimento do país

Analistas de mercado destacaram que país tem agora a tríplice coroa do rebaixamento


Nada mais resta a ser preservado no conceito do Brasil entre as três grandes agências globais de classificação de risco: o país perdeu o grau de investimento da Moody;s, a última que ainda lhe conferia o selo de bom pagador. Analistas de mercado destacaram que país tem agora a tríplice coroa do rebaixamento.

A agência rebaixou ontem o país em dois degraus: de Baa3, o último nível na escala de bom pagador, para Ba2 (veja quadro ao lado). Além disso, manteve a perspectiva negativa, o que indica que o risco soberano ; dos títulos do governo ; poderá sofrer um novo corte em breve. Em nota, a vice-presidente da Moody;s Samar Maziad aponta duas razões para a dupla queda de ontem: ;a perspectiva de deterioração adicional dos indicadores de dívida do Brasil em um ambiente de baixo crescimento, com a dívida provavelmente excedendo 80% do PIB nos próximos três anos; e a desafiadora dinâmica política, que continua dificultando os esforços de consolidação fiscal das autoridades e adiando reformas estruturais.;

O que preocupa a Moody;s é ver um país ;anêmico;, com queda no Produto Interno Bruto (PIB) de 0,5% ao ano, em média, entre 2016 e 2018. O governo deverá gastar 20% de sua receita para pagar juros no período, destacou a agência. A classificação de risco é um serviço contratado pelo emissor dos papéis para indicar ao mercado as chances de os compromissos serem honrados. A queda significa que o país terá de pagar mais para rolar sua dívida. E as empresas brasileiras também terão de aumentar os desembolsos para obter financiamento.

[SAIBAMAIS]Analistas destacam, porém, que o movimento já era esperado, depois de a Fitch e a Standard & Poor;s (S) terem jogado o Brasil na categoria lixo. Na semana passada, o país desceu mais um degrau na escala da S, mergulhando ainda mais na categoria especulativa. E a própria Moody;s colocou o Brasil em perspectiva negativa ainda em dezembro.

;O mercado não está ligando muito para o rebaixamento, o que em si é já péssimo: mostra a que nível nós chegamos;, disse o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. A S foi a primeira agência a retirar o grau de investimento, em setembro do ano passado, pouco depois de o governo entregar o orçamento de 2016 com previsão de deficit.

Na avaliação de Perfeito, a mudança da Moody;s reflete a perda de confiança no governo da presidente Dilma Rousseff para a superação da crise que o país atravessa, algo que independe de quem está na equipe econômica. ;Mesmo que a Dilma chame Jesus Cristo para ser seu assessor, ninguém vai botar fé;, avisou. Ele destacou que a decisão da Moody;s é resultado de uma ;piora sistêmica e continuada das condições fiscais e da economia como um todo;.

O economista teme que, se a crise política continuar, a deterioração se agrave, com novos cortes pelas agências, o que pode colocar o país em um grau altamente especulativo. O CDS, principal indicador de risco do país estava ontem em 454 pontos (4,54 pontos percentuais acima dos papéis norte-americanos). Em 2014, a diferença era de apenas 180. A expectativa é de que a falta de credibilidade na retomada da economia intensifique a recessão. O economista Affonso Celso Pastore avalia queo PIB brasileiro tenha caído 4% em 2015 e espera um tombo de 4,2% neste ano.

Para Fernando Barroso, responsável pelos mercados de derivativos institucionais da CM Capital Markets, embora o rebaixamento já fosse dado como certo, ainda não foi precificado completamente. ;Não é irrelevante. Vai ficar cada vez mais caro para as empresas obter crédito. É um processo de deterioração progressiva que já vinha acontecendo e que vai continuar, agravado pela perda de mais um grau de investimento do risco soberano;, afirmou.

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