A inflação não dá trégua aos brasileiros. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 1,27% em janeiro, a maior alta para o mês desde 2003, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado não só manteve o custo de vida em dois dígitos, como levou a carestia a um patamar acima do observado em 2015, de 10,67%. No fim do mês passado, o indicador avançou para 10,71% no acumulado de 12 meses, o maior nível desde novembro de 2003.
O resultado de janeiro foi tão expressivo que, para alguns analistas, é cada vez mais provável que o custo de vida permaneça em patamar acima dos 10% pelo menos ao longo do primeiro trimestre. Apesar de prever para as próximas leituras alguma desaceleração, o economista Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, admite que o IPCA veio acima do que esperava e da mediana das expectativas do mercado, de 1,10%.
O IPCA ficou bem acima das previsões sobretudo por causa da disparada dos preços do grupo de alimentação e bebidas, que subiram 2,28% em janeiro, o maior aumento para o mês desde a implementação do Plano Real. Considerando todos os meses, o item teve o avanço mais alto desde novembro de 2002, quando chegou a 3,91%. Sozinhos, os gatos com comida tiveram um impacto de 0,57 ponto percentual no IPCA, respondendo por quase metade da variação do índice.
A inflação é ruim para todos, mas especialmente cruel com os mais pobres. Sobretudo quando a alta de preços é mais pesada nos alimentos, que consomem a maior parte do orçamento da população de baixa renda. Também divulgado pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) reflete mais de perto o custo de vida das famílias com renda de até cinco salários mínimos e é a principal referência nas negociações de reajustes salariais. Em janeiro, o INPC subiu 1,51% na média nacional, mas foi especialmente alto em algumas capitais, como Curitiba (2,07%) e Rio de Janeiro (2,37%).
Clima
São vários os motivos que explicam a alta dos alimentos, mas, para a gerente de Pesquisa do IPCA, Irene Machado, fatores climáticos foram os mais importantes. ;Itens como cebola e feijão são muito sensíveis ao clima;, afirmou. As duas culturas têm grande parte da produção em estados do Sul do país, que sofreu, no último trimestre de 2015, com o excesso de chuvas, que provocou perdas e atraso no plantio. Além disso, produtos como a batata-inglesa foram castigados pela seca intensa em outra regiões.
Os custos de produção também subiram em decorrência da alta da energia elétrica e da desvalorização do real em relação ao dólar, que aumentou os gastos com fertilizantes e defensivos agrícolas. Com tantos fatores adversos, os subgrupo de tubérculos, raízes e legumes registrou crescimento de 21,1% em janeiro, puxado, principalmente, pelas altas de 32,6% da cenoura, de 27,3% do tomate, e de 22% da cebola.
O economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, reconheceu que o clima adverso favoreceu perdas em várias culturas. No entanto, avaliou alia que a intensidade da aceleração dos preços está muito mais atrelada a equívocos cometidos pelo Banco Central no controle da inflação.
;É normal uma aceleração do IPCA em todo começo de ano. Mas não adianta procurar culpados. Em um mês, os vilões podem ser os serviços. Em outro, os alimentos. Mas a raiz da carestia vem do conjunto da economia e dos erros da política monetária;, analisou o economista. Para Antônio da Luz, em vez de combater a inflação e procurar levá-la ao centro da meta, o BC está mais preocupado em preservar o crescimento, e não tem a ajuda do Ministério da Fazenda na política fiscal. ;Assim, não teremos tão cedo uma inflação de país de primeiro mundo;, criticou.
Tarifaço
Tal como no início de 2015, os preços administrados também pressionaram a inflação. Em janeiro, metade das 10 maiores contribuições ao IPCA vieram de itens controlados pelo governo, com destaque para as passagens de ônibus urbanos, que avançaram 3,84%, em média, em seis das 13 capitais pesquisadas. Os combustíveis, com alta de 2,11%, também puxaram para cima a variação do grupo de transportes.
Analistas destacaram ainda o aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), principal fonte de receita das administrações estaduais, no encarecimento das tarifas públicas. O tributo foi o principal fator a elevar, em alguns estados, o preço da gasolina. Além disso, aumentou o preço da energia elétrica, que subiu 1,61%.