A taxa de desemprego alcançou 9% no trimestre terminado em outubro de 2015 ; o pior nível desde 2012 ; e a tendência é piorar. Segundo o consultor Rodolfo Peres Torelly, ex-diretor do Departamento de Emprego do Ministério do Trabalho e da Previdência, o emprego formal está desabando e não tem como a desocupação não chegar a dois dígitos neste ano. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 9,1 milhões de pessoas procuravam emprego entre agosto e outubro do ano passado, 2,5 milhões a mais do que no mesmo período de 2014.
A perda de quase 1,2 milhão de vagas formais no mercado, nos últimos 12 meses, é um dos fatores por trás do aumento na procura por emprego, explicou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. Ele ressalta que muitas pessoas até conseguiram recolocação, mas sob condições piores e, não raro, ganhando menos. É por isso que pessoas que antes não trabalhavam nem buscavam emprego agora tentam ajudar na recomposição do orçamento da família.
Reorganização
O nível de ocupação, no entanto, se manteve estável em 92,3 milhões de pessoas, com recuo de 0,3% sobre o mesmo período de 2014. ;O que tem segurado a taxa de ocupação nesse patamar é o setor de serviços domésticos e a pessoa que vai trabalhar por conta própria, com recolhimento para a Previdência ou não;, avaliou Torelly. Só o trabalho doméstico, no período, criou 200 mil novas vagas. Além desses, outro setor contribuiu para que o número não fosse mais alto: o de hotelaria, que também empregou 200 mil profissionais.
Para Flavia Vinhaes, economista da coordenadoria de Trabalho e Emprego do IBGE, o problema é que o mercado não está absorvendo as pessoas que foram demitidas, nem o crescimento vegetativo da População Economicamente Ativa (PEA) ; de 1% a 1,2% ao ano. ;Está havendo uma nova reorganização da mão de obra, com substancial perda de carteira assinada, que obriga as pessoas a migrarem para outras ocupações mais instáveis;, analisou.
O setor que mais demitiu no trimestre encerrado em outubro, quando comparado ao imediatamente anterior, foi o de informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas, com extinção de 580 mil vagas (-5,4%). Em 12 meses, no entanto, a indústria continuou imbatível com o fechamento de 751 mil postos de trabalho (-5,6%). Entre agosto e outubro, a queda foi de 2,6%, 336 mil empregos.
Informalidade
A perda de vagas com carteira assinada incentivou o aumento da informalidade nos últimos meses. ;Os trabalhadores demitidos dos setores do comércio, agropecuária e serviços domésticos estão respondendo pelo aumento do trabalho por conta própria, com consequente aumento da informalidade;, ressaltou Carlos Henrique Corseuil, coordenador de Trabalho e Renda do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Uma das desvantagens de trabalhar por conta própria é o rendimento. Um autônomo ganha 25% menos do que a média do país (R$ 1.419 ante R$ 1.895).
No trimestre encerrado em outubro, o rendimento real (descontada a inflação) do trabalhador caiu 0,7%, para R$ 1.895. Segundo Torelly, a renda só não caiu mais porque teve a correção do salário mínimo. ;Mesmo com o reajuste sendo feito em janeiro do ano passado, ajudou a segurar a renda durante o ano. E isso precisa ser feito, mesmo com prejuízo das contas do governo, porque senão a situação fica pior;, afirmou.
Na opinião de Courseil, a queda só não ocorreu antes porque os primeiros trabalhadores a perder o emprego são os que ganham pouco, mas, com a inflação acelerando, o rendimento começou de fato a trajetória de piora. ;Talvez esse movimento dê uma desacelerada agora neste primeiro trimestre de 2016 com esse novo aumento do salário mínimo;, disse.
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