Economia

Violência ceifa vida de 30 mil jovens que poderiam ajudar país a crescer

As mortes acarretam prejuízos de R$ 88 bilhões anuais à economia, três vezes mais o que é gasto com o Bolsa Família

Especial para o Correio
postado em 06/01/2016 09:21
Eram 7h10 da manhã de 13 de janeiro de 2011, um sábado, quando a vendedora Telma Galhota, hoje com 54 anos, atendeu o telefone. Ela já sabia que a notícia seria ruim. ;Era a namorada do meu filho, Fábio, dizendo que ele tinha levado dois tiros de um homem drogado;, relembra. Bastaram alguns minutos no hospital para o médico anunciar a morte do rapaz, dois dias antes de ele completar 22 anos. Fábio entrou para uma das estatísticas mais dolorosas do país: todos os anos, 30 mil jovens têm a vida interrompida pela violência, perdas incalculáveis para um país que precisa tanto de mão de obra para crescer. O quadro traçado pelo Ministério da Saúde impressiona: mais da metade dos homicídios têm como vítimas jovens de 15 a 29 anos. Em média, 82 garotos são assassinados por dia.

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Com Fábio, se foram os planos de fazer faculdade, comprar um carro e viajar. O luto não é apenas da família, mas de toda a sociedade. ;Existe um valor econômico associado a quem morre precocemente. Essas pessoas deveriam crescer e gerar riquezas, mas têm esse ciclo interrompido pela violência;, explica Daniel Cerqueira, diretor de Estudos e Políticas de Estado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Pelos cálculos dele, os prejuízos estimados com os homicídios de jovens chegam a R$ 88 bilhões por ano, três vezes o que é gasto com o Bolsa Família, programa social cuja principal missão é manter crianças e adolescentes da escola, de forma que se tornem adultos aptos a contribuírem para o avanço do país.

Para obter esse número, os economistas do Ipea calcularam a probabilidade de uma pessoa que nasceu hoje chegar até 1 ano de idade, depois 2, e assim sucessivamente, até os 100 anos. Quanto mais jovem, maior o impacto da perda. Isso significa que a mortalidade juvenil está diretamente associada à estagnação econômica do país. ;A violência está roubando vidas de futuros trabalhadores e consumidores, com muitas oportunidades pela frente;, reconhece Cerqueira.



O que mais assusta é o aumento expressivo do número de meninos e meninas envolvidos com a violência. Em 1980, 6,7% do total de mortes por causas externas eram de pessoas com até 19 anos de idade. Em 2013, essa relação já havia saltado para 29%. Nem mesmo em países em guerra se registram tantas mortes nessa faixa etária. Muito desse retrato cruel está associado ao descaso do Estado, sobretudo com a educação, admite Michael Mohallem, professor de direitos humanos da Fundação Getulio Vargas (FGV).

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