Para a economia brasileira, 2015 é um ano que teima em não terminar. Os indicadores vitais da atividade enfraqueceram mês a mês. Em um gráfico descendente, o Produto Interno Bruto (PIB) fecha o ano negativo, revelando o aprofundamento da crise e a continuidade das turbulências econômicas no início do ano que vem.
Em um cenário de recessão, 2015 chega ao fim com o país sendo rebaixado pelas agências classificadoras de risco, que retiram do Brasil o selo de bom pagador. No ano em que os indicadores macroeconômicos derreteram, a vida dos brasileiros fica marcada também pela volta da inflação à casa dos dois dígitos, crescimento da taxa de juros, encarecimento do crédito e crescimento do endividamento das famílias. Se o ano que se encerra tem fatos para serem comemorados, certamente a crescente produção do agronegócio brasileiro e o superávit da balança comercial se destacam como raios de sol em um céu nublado.
Freando o giro da economia, o consumo das famílias, responsável por 60% do PIB, desacelerou em 2015, ajudando a explicar o resultado negativo da economia, próximo a -3,5%. Apertando a crise, a inflação brasileira deve fechar o ano em 10,8%. O percentual é mais que o dobro da meta traçada pelo Banco Central, de 4,5% para o período. Em novembro, o índice acumulado em 12 meses fechou em 10,5%, o maior para o período desde 2003. Durante o ano, os principais vilões da inflação foram os preços administrados, como a gasolina, o botijão de gás e a energia elétrica, que disparou, chegando a reajuste próximo a 50%.
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INADIMPLÊNCIA Com o custo de vida nas alturas, em 2015 a vida ficou mais dura para o brasileiro das classes C e D. A inadimplência voltou a subir, e, como em uma roda-viva, o calote encarece e dificulta o crédito. A taxa básica de juros da economia fecha o ano em alta, a 14,25%, contra os 11,75% de dezembro passado. Um dos efeitos da escalada dos juros é a alta do custo para os financiamentos. O exemplo mais espantoso para o brasileiro é liderado pelo juros do cartão de crédito, que chegaram a patamar estratosférico em 2015. Acendendo todos os alertas, as taxas do dinheiro de plástico rompem a barreira dos 400% ao ano. Em dezembro, quintuplicam o valor de uma dívida assumida em janeiro.
DESEMPREGO Entre os indicadores macroeconômicos que mais refletem o sentimento de mal-estar da economia, em 2015, o emprego sofreu os efeitos do esfriamento da economia. Em menor ritmo, empresas enxugaram postos de trabalho, assim como a indústria, a construção civil e o comércio. Ao longo do ano, foram fechadas um milhão de vagas.
PREÇOS INTERNACIONAIS Os desafios da economia brasileira em 2015 esbarraram em questões mundiais, como a depreciação das commodities. O barril do petróleo, que em 2011 foi cotado a US$ 123, despencou em 2015 para US$ 37. Em fevereiro, em meio a escândalo bilionário de corrupção, a presidente da Petrobras Graça Foster e cinco diretores da estatal renunciaram a seus cargos. A maior empresa brasileira, frente à depreciação de seu ativo, anunciou desinvestimento entre 2015 e 2016 na ordem de US$ 15 bilhões.
GRAU ESPECULATIVO A desaceleração da atividade teve impacto na indústria, comércio e serviços e em 2015 o ambiente de incertezas da política reflete na economia, levando o país a perder o selo de bom pagador, o que significa sair da condição de investimento para o lugar da especulação. Os efeitos estão na alta do câmbio e em um entrave a mais para a produção, já que há encarecimento das taxas de juros internas, um efeito da piora de condições para se captar recursos no mercado internacional.
Em setembro, a agência Standard & Poor;s rebaixou o Brasil, o que deixa o país com o status de alto risco de calote. A agência justificou com o orçamento deficitário apresentado ao Congresso e ainda a falta de vontade política para fazer o ajuste fiscal. Em dezembro, foi a vez da agência Fitch rebaixar o país. A agência apontou, entre as razões para a retirada do selo de bom pagador, o ambiente político como fonte de contaminação dos fundamentos da economia.
TROCA DE EQUIPE Sem conseguir aprovar o superávit de 0,7% para o ano que vem, o ministro Joaquim Levy deixa o Ministério da Fazenda após 11 meses no cargo. O ministro Nelson Barbosa deixa o Planejamento e assume a pasta com a proposta de um superávit de 0,5% e a promessa de dar continuidade aos ajustes econômicos.
REAL FRACO Não foram só as viagens e as compras dos brasileiros no exterior que encareceram em 2015, ano em que o dólar comercial deu um salto e valorizou próximo a 45% frente ao real, sendo cotado a R$ 3,95 para a venda. O câmbio, pressiona a inflação e inibe as importações. Na ceia de Natal o brasileiro já pagou, em média, 20% mais pelos importados.
Apesar da queda dos produtos importados, que no terceiro trimestre do ano encolheram 20%, a valorização do câmbio favoreceu as exportações. Em 2015, a balança comercial fecha no azul.
O saldo da balança comercial brasileira, resultado da diferença entre as exportações e as importações, deve fechar o ano com superávit de US$ 17 bilhões, melhor desempenho desde 2012, após a reversão do déficit de US$ 4 bilhões registrado no ano passado.
SAFRA BOA Outra notícia positiva é a produção agrícola nacional. Apesar da seca que assola o país, e no ano que vem deve impor um reajuste próximio a 12% na tarifa de energia elétrica, a produção de grãos para a safra 2015/16 está estimada em 211 milhões de toneladas, uma safra recorde, que ajuda a manter o Brasil na posição de maior exportador mundial de alimentos e entre os maiores produtores globais.
IMPOSTO À VISTA No fechamento do ano, mais um susto para o brasileiro. O Congresso Nacional aprova em dezembro o texto do Orçamento de 2016, prevendo arrecadação federal com a criação da nova CPMF, imposto sobre movimentação financeira. O texto estabelece que a meta de superávit primário (economia que o governo tem que fazer para pagar os juros da dívida) será de 0,5% do PIB.
Fatos marcantes
Petrobras anuncia plano de desinvestimento na ordem de US$ 15 bilhões para 2015-2016. Anúncio é feito em meio a investigações da Operação
Lava-Jato e queda no preço do barril do petróleo, que despenca a US$ 37
Banco Central anuncia alta na taxa de juros, que chega ao fim de 2015 em 14,25%. Crédito fica mais escasso e caro para o consumidor. Juros do cartão de crédito disparam e ultrapassam 415% ao ano
Economia chega ao fim de 2015 com previsão de PIB negativo em 3,5%
Banco Central projeta inflação na casa de 10,8% em dezembro
Agências de classificação de risco rebaixam o Brasil e trocam selo de bom pagador pelo de país especulador
Dólar dispara em 2015, com valorização próxima a 45%. Alta da moeda americana pressiona a inflação, encarece os produtos importados, mas beneficia as exportações brasileiras. Balança comercial fecha em superávit da ordem de US$ 17 bilhões
Orçamento para 2016 é aprovado prevendo aumento de imposto para o contribuinte, com a volta da CPMF, imposto sobre movimentação financeira
Do lado bom, produção agrícola nacional é recorde, com safra de 211 milhões de toneladas.