Desde que assumiu o Ministério do Planejamento, no segundo mandato de Dilma Rousseff, Nelson Barbosa sempre sonhou com a chave do cofre. Um ano depois, realizou seu maior desejo, ao ser anunciado, ontem, ministro da Fazenda, substituindo Joaquim Levy, que saiu pela porta dos fundos, depois de perder uma série de embates sobre o ajuste fiscal. No Planejamento, ficará Valdir Moisés Simão, ex-ministro da Controladoria Geral da União (CGU). Os dois serão empossados na próxima segunda-feira.
Barbosa, no entanto, assumirá envolto em desconfiança. Pesa sobre ele a nova matriz econômica ; da qual ele foi um dos mentores ;, que vigorou no primeiro mandato de Dilma e levou o país à recessão. Há ainda o risco de ele ser condenado pelo Tribunal de Contas (TCU) por ter sancionado as pedadas fiscais. Se considerado culpado, será proibido de exercer cargos públicos. Não à toa, a reação dos investidores à escolha do ministro foi extremamente negativa, sobretudo no exterior. O dólar disparou e a Bolsa de Valores de São Paulo (BM) despencou.
Com a demissão de Levy e a nomeação de Barbosa para a chefia da equipe econômica, Dilma acredita que conseguiu acabar com os focos de tensão dentro do governo. Mais que isso, terá controle total da política econômica sem que ninguém seja capaz de lhe apresentar contrapontos. Ela reconhece que Barbosa não é o nome dos sonhos dos agentes econômicos, mas como o Brasil já foi rebaixado por duas das principais agências de classificação de risco, a Standard & Poor;s (S) e a Fitch, não há nada de tão ruim que possa vir em resposta à saída de Levy.
A maior desconfiança em relação a Barbosa está na área fiscal. Foi justamente a defesa de um ajuste mais frouxo das contas públicas que o colocou em permanente tensão com Levy. Mas, com apoio de Dilma, ele venceu todas as batalhas, seja no envio do Orçamento de 2016 ao Congresso com deficit de R$ 30,5 bilhões, seja na redução da meta do ano que vem de 0,7% para 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), com possibilidade de zerar o resultado. Foram essas duas propostas que levaram o país a ser visto como lixo pelas agências de risco.
Ciente dessa imagem ruim, o novo ministro da Fazenda aproveitou sua primeira aparição pública para garantir que o ajuste fiscal será prioridade do governo. Mas não deixou de sinalizar mudanças, como forma de agradar a ala do governo mais à esquerda e, sobretudo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, detratores de Levy. ;Estamos em fase de transição na economia brasileira para o novo ciclo de crescimento. Essa fase passa pelo equilíbrio fiscal. Somente com estabilidade fiscal vamos ter crescimento sustentado;, afirmou.
Reformas
Barbosa minimizou os efeitos do rebaixamento do país pelas agências de risco. ;Grau de investimento é resultado. Creio que, com o controle da inflação e a retomada do crescimento, o grau de investimento virá como consequência;, disse. Ele ressaltou ainda a autonomia do Banco Central na condução da política monetária ;para trazer a inflação para o centro da meta;, ou seja, aumentar a taxa básica de juros (Selic), se necessário. A perspectiva é de que, já em janeiro, os juros passem de 14,25% para 14,75%, apesar do agravamento da recessão.
O novo ministro citou a ;cooperação; entre ele e Levy ao longo deste ano, com a apresentação de várias medidas de ajuste fiscal que ;estão em curso;, mas não se preocupou em elogiar o trabalho do antecessor. Levy embarcaria ontem para São Paulo e neste fim de semana deverá se encontrar com a família nos Estados Unidos. Não participará, portanto, da posse oficial de Barbosa, a menos que haja alguma mudança de planos. O que não surpreende. Os dois nunca se entenderam.
À frente da Fazenda, Barbosa garantiu que o governo já adotou várias medidas de redução de gastos. ;Fizemos reformas estruturais, no seguro-desemprego, na pensão por morte, além de medidas de gestão para melhorar o gasto público. O foco continua sendo a estabilidade fiscal;, garantiu. Ele admitiu, porém, que é preciso avançar nas reformas estruturais de longo prazo, a partir do controle dos gastos obrigatórios, e isso passará, obrigatoriamente, por ajuste na Previdência Social, que consome 47% do Orçamento.
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