Jornal Correio Braziliense

Economia

Brasil ainda cria oportunidades de empregos: saiba onde estão as vagas

Pela alta rotatividade, vagas operacionais podem ser as mais fartas no mercado. No entanto, a disputa por elas está se acirrando


Tanto para quem busca o primeiro emprego quanto para quem quer se recolocar, o cenário é frustrante. No terceiro trimestre de 2015, o índice de desemprego subiu para 8,9%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No caso dos jovens de 18 a 24 anos, a taxa é de 19,7%. No entanto, especialistas garantem que a recessão não é sinônimo de conjuntura estática, e as vagas existem ; em todas as vagas. Em alguns ramos, porém, podem ser mais fartas.

Professor de cenários econômicos e macroeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin aponta que o mercado continua dinâmico. ;Há fechamento e abertura de vagas em todo momento ; só que, nos últimos 18 meses, o número de encerramentos foi bem maior;, pondera. Segundo Rochlin, a tendência é que empresas ligadas à exportação ; que podem ser de vários setores, como automóveis, soja e aço ; demandem mais diversos tipos de profissionais porque o dólar em alta torna o setor mais competitivo. ;Fazendo um corte por setor, nenhum abre mais do que fecha no momento. No entanto, algumas empresas estão em situação melhor que outras;, diz.

;Há mais desemprego e menos vagas que o normal, mas os setores são afetados pela crise de manerias distintas. Alguns ; como o automotivo ; sofrem mais. Crescimento e contratações, porém, dependem muito da postura da empresa: se ela é agressiva e vê a crise como oportunidade pode contratar em vez de demitir;, aponta Ana Seraceni, estrategista de carreira da Comserventia. Coordenadora de recursos humanos da OD Consulting, Andréia Melo, acredita que as ofertas de trabalho estão diminuindo no geral e afirma que ;a alta rotatividade dos profissionais operacionais faz com que oportunidades do tipo sejam constantes e representem a maior fatia disponível no mercado.;

Radiografia do emprego
Segundo a 8; edição do guia salarial da Robert Half, divulgado na semana passada, as empresas estão se adequando ao cenário de menor crescimento e buscam eficiência. Nesse contexto, profissionais capazes de alcançarem bons resultados em situações adversas são mais valorizados. A expectativa é que não haja significativa expansão de vagas em 2016. Uma coisa é certa para as contratações futuras: serão mais rigorosas. É o que aponta Fernando Mantovani, diretor de Operações da empresa no Brasil. ;Pessoas morrem, se aposentam, e incompetentes são demitidos. Tem empresa mandando embora dois para contratar um. Vagas de trabalho existem sim, mesmo que apenas de reposição. A questão é que, quando o mercado está crescendo, contrata-se mais e não há tantos critérios na busca. Em momento de crise, a situação muda;, decreta.

;Empresas de exportação estão crescendo por causa da alta do dólar e podem contratar profissionais de diversas áreas. Instituições automotivas estão produzindo menos carros e podem tentar recuperar rendimento contratando bons profissionais. Há muito mais movimento numa exportadora do que numa firma do setor automotivo, mas pode ser que as duas contratem;, exemplifica. Segundo ele, é difícil indicar carreiras específicas que devem contratar mais em 2016, mas, entre essas, ele destaca a área jurídica societária e a comercial em startups.

Cenário comercial

;Setores de essencialidades ; como supermercados, farmácias, postos de combustíveis ; continuam e vão continuar contratando;, garante o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Adelmir Santana. O comércio do DF teve queda de -0,23% nas vendas em outubro na comparação com setembro. O setor de serviços apresentou decréscimo de -0,11%. No comércio, os segmentos com maior alta nas vendas foram: tecidos (13,49%) e floriculturas (8,86%); tiveram queda bares, restaurantes e lanchonetes (-2,59%) e material de construção (-1,86%), por exemplo. No setor de serviços, alguns dos que apresentaram crescimento são casa de eventos (12,29%), aluguel de artigos para festas (9,41%), clínica de estética (1,85%) e salão de beleza (0,92%).

Entre os segmentos em baixa e que não devem contratar, Cyndia Bressan, mestre em psicologia do trabalho, coordenadora do MBA em gestão de pessoas por competências, indicadores e resultados do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (Ipog), destaca o de restaurantes. Em contrapartida, o ramo de entrega de comida tem crescido: é o que aponta a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). O nicho deve movimentar R$ 9 bilhões até o fim do ano, R$ 1 bilhão a mais que 2014. Diferentemente de restaurantes, a opção elimina custos, como o de transporte. ;Em fim de ano, há demanda por setores de festa e estética;, diz Cyndya Bressan ; conclusão reiterada pelos números da Fecomércio. Sobre o mercado de beleza ; incluindo salões, lojas e até cirurgias plásticas ;, ela percebe que esse continuará efetivando mão de obra. ;As pessoas economizam, mas não deixam de fazer exceções em prol da autoestima;, diz.

Priscilla Amaral, 31 anos, proprietária do salão de beleza Zug Hair, localizado no Lago Sul, percebe os bons ventos. Durante a crise, o número de clientes até aumentou. Nos últimos dois meses, ela contratou duas novas empregadas ; uma em vaga de reposição e outra em nova oportunidade. ;As pessoas não deixam de vir, no máximo param de procurar atendimentos para tarefas que conseguem fazer sozinhas, como manicure e escova;, observa. Entre as novas aquisições do Zug Hair, está a cabeleireira Géssica Luzia Carvalho, 24. ;Saí do antigo salão em que eu trabalhava porque o movimento estava fraco. Fiquei dois meses em casa para resolver problemas pessoais e fui indicada para a vaga.; Jaqueline Alves, 21, entrou para trabalhar como manicure. ;Demorei duas semanas para encontrar trabalho depois de ter saído do meu antigo emprego. Não me preocupei com a crise porque percebo que não falta emprego na área;, comemora.