O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, afirmou nesta terça-feira, 22, que as contas externas estão passando por período de ajuste em função do dólar mais alto frente o real e do baixo nível de atividade econômica do país. Segundo ele, as contas externas , apresentaram em agosto comportamento semelhante ao que tem sido visto desde o começo do ano, de redução de déficits. "Taxa de câmbio e ritmo de atividade econômica têm influência direta sobre esses resultados e em função desse ajuste, estamos revisando nossa projeção de déficit para o ano", relatou.
Para setembro, a projeção do BC é de déficit em transações correntes de US$ 3 bilhões. Maciel frisou, para mostrar a desaceleração, que em igual mês do ano passado havia sido de US$ 8,4 bilhões. "Como temos visto a cada mês, esses déficits estão se reduzindo", afirmou.
Observou ainda que o aumento de Investimento Direto no País (IDP), de US$ 5,246 bilhões, superou as expectativas. "O ingresso desses investimentos superou largamente nossa estimativa, que era de US$ 3 bilhões. No entanto, não há uma razão especial para isso. É uma oscilação normal desse indicador", ponderou.
Dados parciais até 18 de setembro mostram ingresso líquido de US$ 2,8 bilhões e, com isso, a projeção para o próximo mês é de entrada de US$ 4 bilhões. Ele observou ainda que o ritmo de captações está menor em 2015. "As captações estão menos favoráveis que no ano passado", disse.
Balança
O chefe do Departamento Econômico do Banco Centra afirmou que as importações têm recuado em ritmo mais forte que as exportações e que esse movimento tem permitido um saldo positivo na balança comercial. Segundo ele, as importações recuaram 22% em 2015 enquanto as exportações caíram 17%.
Maciel explicou ainda que, nas exportações, os preços caíram 21%, mas o volume cresceu 5,6%; nas importações, o volume caiu 11% e os preços 11,6%. "Essa é uma tendência que temos observado desde o início do ano", disse. "As exportações atenuam os demais componentes de demanda sobre o PIB com contribuição positiva para a economia", explicou.
Remessas
Maciel afirmou que há uma tendência de despesas menores com remessa de lucros e dividendos. Observou que, na comparação entre agosto e igual mês do ano passado, houve recuo de 39%, passando de US$ 19,2 bilhões em 2014 para US$ 11,7 bilhões.
Segundo ele, esse recuo reflete uma desaceleração tanto nas remessas associadas ao IDP quanto no investimento em carteira. "O menor lucro das empresas e por esses valores serem auferidos em reais e convertidos em dólares reduz o volume de remessas", ponderou.
A parcial para a remessas de lucros e dividendos, até 18 de setembro, é de saída de US$ 466 milhões. Para despesa de juros, a parcial está negativa em US$ 436 milhões.
Viagens
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central informou que, em setembro, até o dia 18, as despesas líquidas com viagens internacionais somam US$ 571 milhões. "Viagens internacionais são o maior destaque da conta de serviços, numa reação expressiva em relação ao ano passado", avaliou. Segundo Maciel, essa conta é formada por receitas de US$ 298 milhões e de despesas de US$ 869 milhões no período.
Ele fez um exercício projetando esse comportamento até o dia 18, que conta com 13 dias úteis, para o restante do mês. Não apresentou o montante líquido, mas observou que se tratará de uma redução de 53% em relação a setembro do ano passado.
De janeiro a agosto, a retração dessa conta de viagens é de 27% na comparação com os mesmos oito meses de 2014. "Em agosto, esse recuo se mostrou ainda mais intenso, mais acentuado, de 55% nas despesas líquidas e, para setembro, temos manutenção desse recuo acentuado", disse. "Tenho dito, claro, que essa é uma conta elástica à taxa de câmbio e que reage com maior rapidez e intensidade a câmbio. É o que temos observado também em relação à renda", continuou.
Questionado sobre se o impacto continuará grande por causa das promoções feitas por companhias aéreas para viagens, Maciel disse não acompanhar com tanto detalhe esse setor porque já viajava pouco para fora do país. "De forma geral, o brasileiro viajará menos para o exterior tendo em vista o encarecimento das passagens aéreas", previu.
Captações externas
O representante do Banco Central salientou que as condições de captação externa este ano estão menos favoráveis do que em 2014. "Há uma contração mais expressiva, mais nítida nos investimentos diretos no país e isso reflete nas condições de captação externa", avaliou.
Ele destacou que, de janeiro a agosto, o Investimento Direto no País passou de US$ 65,433 bilhões no ano passado para US$ 42,169 bilhões em 2015 e que a participação total no capital caiu, no mesmo período, de US$ 37,413 bilhões para US$ 29,112 bilhões.
Ainda em relação aos oito meses dos dois anos, Maciel destacou o saldo de US$ 28,020 bilhões visto em 2014 contra US$ 13,057 bilhões de 2015. As amortizações pagas no exterior, no entanto, subiram de US$ 12,206 bilhões para US$ 21,904 bilhões.
Já sobre os Investimentos Diretos no Exterior, salientou a redução de US$ 21,857 bilhões para US$ 13,039 bilhões da participação no capital total, enquanto as operações intercompanhias saíram de um saldo positivo de US$ 712 milhões para um resultado negativo de US$ 933 milhões. "Vemos uma moderação dos investimentos dos brasileiros no exterior", disse. "Há a continuidade de ampliação de capital no exterior, embora em um ritmo menor do que o observado em 2014", comparou.