Atenas, Grécia - Depois de garantir um terceiro resgate europeu, a Grécia entra em um novo período de instabilidade política com eleições legislativas antecipadas em setembro, as quintas desde o início da crise em 2009.
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, anunciou sua renúncia na quinta-feira em meio a um contexto de ruptura dentro de seu partido, Syriza, enquanto 25 deputados desta formação já indicaram que vão formar um novo grupo parlamentar, Unidade Popular.
Este anúncio, publicado no site Left.gr, ligado ao partida, confirma a ruptura do Syriza, que venceu as eleições de 25 de janeiro com 36,3% dos votos e prometeu acabar com as políticas de austeridade impostas pela União Europeia.
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"Vamos tentar encarnar o espírito do ;não; do referendo" organizado por Tsipras em 5 de julho, anunciou Panagiotis Lafazanis, de 63 anos, ex-ministro do Meio Ambiente, que perdeu a pasta em uma reforma ministerial em julho, depois de ter manifestado oposição, com outros deputados do Syriza, ao recente acordo entre Atenas e a UE sobre um plano de resgate de 86 bilhões de euros em troca de novas medidas de austeridade.
Opositor declarado das políticas de austeridade, Panayiotis Lafazanis acusou Tsipras de "trair" o Syriza e de ceder à pressão dos credores do país, a UE e o FMI.
"Cabe a vocês (os gregos), decidir com o seu voto se o acordo permite superar os atuais obstáculos e nos levar à recuperação", afirmou o primeiro-ministro, que assumiu o cargo no final de janeiro.
Aos 41 anos, Tsipras encarnava a esquerda política que acabaria com as "políticas de austeridade" odiadas pelos gregos e impostas ao país desde o início da crise econômica, há cinco anos.
Mas depois de seis meses de tensas negociações, sob a pressão dos credores, precisou assinar o acordo de 13 de julho para um novo empréstimo.
Quase 40 deputados do Syriza, dos 149 do partido, votaram contra ou optaram pela abstenção na semana passada durante uma votação no Parlamento grego sobre o acordo com a UE. A situação representou um duro golpe para o governo de coalizão de Tsipras, que perdeu a maioria parlamentar e conta atualmente com 119 deputados de um total de 300.
Neste contexto, Tsipras apresentou sua renúncia ao presidente grego Prokopis Pavlopoulos e defendeu eleições antecipadas, que podem acontecer em 20 de setembro, para poder formar um governo "estável".
Apesar de tudo, ele continua a gozar de grande popularidade em seu país e espera vencer as eleições de setembro.
Segundo a Constituição grega, a renúncia do primeiro-ministro gera automaticamente um procedimento de "mandatos exploratórios": os três partidos com mais deputados no Parlamento são convocados sucessivamente para tentar formar um governo de coalizão em um prazo de três dias.
Caso nenhum partida consiga formar um novo governo, o presidente convoca eleições antecipadas.
Segundo a imprensa e vários analistas, não está descartada a possibilidade de que Panagiotis Lafazanis, com seu grupo parlamentar de pelo menos 25 deputados, seja convocado para utilizar o "mandato exploratório" se a direita não conseguir formar um governo de coalizão.
Antes da formação desta nova bancada parlamentar de dissidentes do Syriza, teria correspondido ao partido neonazista Amanhecer Dourado (17 deputados), terceiro partido no Parlamento, tentar formar um Executivo.
A perspectiva de eleições antecipadas parece não incomodar os credores.
"Uma ampla maioria apoiou o pacote de medidas no Parlamento grego e não esperamos que esta posição mude" após as eleições, declarou o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijselbloem.
A agência de notação Fitch se mostrou, por sua vez, preocupada com o impacto "da incerteza política sobre o êxito do programa" de resgate.