Jornal Correio Braziliense

Economia

Parlamento da Grécia aprova terceiro plano de resgate do país

Foram 222 votos a favor contra 64 contra

Atenas, Grécia - O Parlamento grego aprovou nesta sexta-feira (14/8)o terceiro pacote de resgate do país, com o voto contrário de vários deputados do Syriza, o partido do primeiro-ministro Alexis Tsipras, e agora o texto deve ser examinado pelos países do Eurogrupo, em particular a Alemanha.

[SAIBAMAIS]O texto de lei, de 400 páginas, um drástico plano de austeridade que combina medidas orçamentárias e reformas estruturais, em troca de uma ajuda financeira de 85 bilhões de euros dos credores internacionais, recebeu 222 votos favoráveis, 64 contrários e 11 abstenções. O pacote foi aprovado graças aos votos da oposição, já que mais uma vez Tsipras não conseguiu convencer todos os parlamentares do Syriza.



De acordo com cálculos não oficiais, 47 deputados do Syriza em um total de 149, incluindo o ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis, a presidente do Parlamento e outros dirigentes do partido, se negaram a apoiar o acordo de três anos com os credores. Segundo os mesmos cálculos, 32 deputados votaram contra, 11 optaram pela abstenção, três aprovaram o texto geral mas foram contrários a determinados artigos e um não compareceu à sessão.

Isto representa um revés interno para Tsipras. Durante o debate parlamentar, que durou toda a noite, Tsipras fez um apelo aos deputados para que votassem o acordo para "garantir a sobrevivência do país e continuar lutando". "A Grécia deve escolher entre um plano de resgate dentro do euro e um plano de resgate com retorno ao dracma, como continua sugerindo o ministro alemão das Finanças", afirmou Tsipras no fim do debate.

Tsipras advertiu ainda contra a alternativa de um crédito ponte. Um empréstimo ponte, como sugere a Alemanha, seria um "retorno a uma crise interminável", disse. "É o que alguns buscam sistematicamente e nós temos a responsabilidade de evitá-lo, de não facilitá-lo", acrescentou Tsipras.

A votação sobre o acordo estava prevista para a noite de quinta-feira, mas o debate foi prorrogado em grande parte por ação da presidente do Parlamento, Zoe Constantopoulou, radicalmente contrária ao acordo com os credores. Constantopoulou declarou que o acordo era inconstitucional.

"Estão vendendo cada pedaço e toda a beleza da Grécia. O governo está dando as chaves à ;troika;, junto com a soberania e os ativos nacionais", disse a presidente do Parlamento, em referência aos credores do país União Europeia, Banco Central Europeu (BCE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Mecanismo Europeu de Estabilidade.

Constantopoulou anunciou que não apoiará mais um primeiro-ministro que se uniu aos antecessores, que "aceitaram o memorando, lançando os companheiros aos cães". "O governo grego assumiu a responsabilidade de prosseguir com o combate, ao invés de cometer suicídio e depois ir aos fóruns internacionais para dizer que não é justo que tenhamos nos suicidado", disse Tsipras.

"Prefiro o compromisso à dança do Zalongo", completou, em referência a um episódio da história grega ocorrido no século XIX, o suicídio coletivo de um grupo de mulheres e seus filhos, que se jogaram de um precipício para não cair nas mãos do governo otomano de Ali Pasha.

Reunião do EurogrupoA Comissão Europeia expressou confiança de que o Eurogrupo aprove nesta sexta-feira o plano de resgate da Grécia, poucas horas depois da votação favorável do Parlamento em Atenas. "Consideramos estimulante a votação incontestável do Parlamento grego e acreditamos que (obter) um resultado positivo é totalmente factível hoje", durante a reunião do Eurogrupo em Bruxelas, disse um porta-voz da Comissão.

Os 19 ministros das Finanças da Eurozona se reunirão no início da tarde em Bruxelas para decidir se aprovam o terceiro resgate a Atenas. Os deputados gregos aprovaram uma lista de ações prioritárias exigidas pelos credores para a liberação da primeira parcela de ajuda, de entre 23 e 27 bilhões de euros, segundo uma fonte europeia. Mas muitos países europeus, em especial a Alemanha, manifestaram dúvidas e desejam mais garantias do governo do primeiro-ministro grego Alexis Tsipras.