Jornal Correio Braziliense

Economia

Cartão de crédito: Aliado ou vilão das finanças dos brasileiros?

Para se beneficiar do crédito, é preciso controlar gastos e evitar parcelamentos

O cartão de crédito se tornou o grande vilão das finanças dos brasileiros. Com juros exorbitantes, que chegam a 372% ao ano, o preço por dar uma derrapada nas compras ou se esquecer de pagar a fatura é alto ; em tempos de crise, pode ser insustentável. Com a corda no pescoço, qualquer gasto a mais é uma péssima ideia.

Para evitar uma relação cada vez mais difícil com o cartão de crédito, muitas pessoas têm optado por deixá-lo de lado. ;Sinto falta, mas sei que ficar sem ele é melhor para mim;, desabafa a assistente social Marly dos Reis, 39 anos. Foi muito tempo de uma relação pouco saudável até ela perceber que o cartão de crédito mais atrapalhava que ajudava nas finanças.

Entre julho e 2014 e fevereiro de 2015, Marly assistiu, de mãos atadas, a dívida de R$ 1,5 mil, feita entre supermercados e shoppings, se transformar em uma pendência de quase R$ 3 mil. ;Fui empurrando com a barriga durante esse período, porque sempre acreditei que ia conseguir pagar, que as coisas melhorariam;, lembra. Só no começo deste ano, assustada com os juros, ela resolveu jogar a toalha. Mas, para se livrar da dor de cabeça, precisou, antes, se livrar da vergonha. ;É muito constrangedor ter que pedir para renegociar a dívida no banco, eu estava evitando ter que fazer isso. Foi difícil;, lembra. Um sufoco pelo qual ela não pretende passar de novo. ;Para mim, o cartão é traiçoeiro. Você acha que vai facilitar a vida, mas o que acontece é o contrário;, alerta a assistente social.

;O que está havendo hoje é que, devido à falta de educação financeira, o cartão acabou virando inimigo número um das pessoas;, explica a consultora de finanças pessoais Myrian Lund, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV). Sem necessidade de desembolsar dinheiro na hora, muita gente tem dificuldade de calcular o quanto tem efetivamente disponível. Com os bancos dando limites acima do que a pessoa ganha mensalmente e propagandas induzindo o consumo, fica fácil perder o controle. Esses são alguns dos motivos pelos quais 61,9% dos brasileiros estão endividados, de acordo com os dados mais recentes divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC): 77,4% dessas dívidas foram feitas com o cartão de crédito, o que não é surpresa nem para os especialistas nem para os consumidores.

A manicure Eliane Almeida, 22, entrou na lista de endividados no fim do ano passado, quando se empolgou nas compras e acabou recebendo em troca uma fatura alta demais. ;Sair com cartão de crédito é tentador, porque você vê promoções e quer comprar tudo. E consegue, mesmo não tendo dinheiro na hora;, conta. Em novembro, as dívidas, feitas principalmente com roupas e sapatos, ficaram impraticáveis, e ela precisou renegociar o valor com o banco. ;Depois do trauma, larguei o cartão de crédito. Não quero mais saber dele;, declara.

Para Myrian, da FGV, o afastamento é um passo essencial para se restabelecer financeiramente após ter problemas com o cartão. ;É que nem droga, tem que se distanciar. É preciso entender que dinheiro também vicia;, alerta. A realidade é dura, mas simples: o cartão de credito só é amigo de quem tem controle dos gastos ; o que, acredita Myrian, corresponde a apenas cerca de 10% da população brasileira. O dinheiro de plástico só é o aliado de quem sabe quanto pode gastar todo mês, faz uma planilha de despesas e não se deixa iludir por propagandas. Para o resto, é cilada. ;Muitas vezes, ter cartão é um suicídio das contas financeiras. Se você não tem controle, o melhor a fazer é quebrá-lo e não usar mais. Sua vida vira um mar de rosas;, aconselha.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.