O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disse hoje (5/8) que a desaceleração das atividades de petróleo e gás não é exclusivamente brasileira, mas atinge as grandes empresas que atuam no setor no mundo. Admitiu porém que um segundo impacto, característico da desaceleração no Brasil, é provocado pelas denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras.Segundo ele, os trabalhos de combate às irregularidades afetam hoje diretamente os investimentos, mas vão garantir ganhos, em médio prazo, de eficiência, governança e transparência.
;O combate à corrupção traz benefícios para a empresa e para a sociedade. Com a operação Lava-Jato, da Polícia Federal há uma recuperação de recursos desviados estimada em R$ 570 milhões, outros R$ 296 milhões já foram devolvidos e a meta de recuperação é R$ 6,2 bilhões;, disse. E acrescentou: ;A empresa vai ter retomada de eficiência, mas agora tem impacto sobre o Produto Interno Bruto (PIB);.
Ao falar com deputados da Comissão de Minas e Energia (CME) da Câmara, sobre a crise da indústria naval no Brasil provocada pelas denúncias envolvendo a estatal, o ministro destacou que o setor já representou 13% das riquezas produzidas no país, mas hoje sofre com ;a queda de investimentos da Petrobras e na construção civil;.
Mercadante reiterou que grandes empresas do mundo, como Shell e Technobil, passaram por cortes de investimento em torno de 30% nos últimos meses. Segundo ele, o primeiro problema surgiu com o colapso das commodities em agosto de 2014, ;que desabaram de preço sem perspectiva de recuperação porque Irã voltou ao mercado de petróleo [com projeção de oferta alta do produto] e isto impacta todas as empresas de petróleo do mundo e impacta a Petrobras;, explicou.
Deputados da CME têm tentado ouvir dirigentes da estatal brasileira sobre o impacto das denúncias envolvendo a Petrobrás. O deputado Rodrigo de Castro (PSDB-MG), presidente da comissão, reclamou que dirigentes da estatal nunca se dispuseram a comparecer às audiências.
Aloizio Mercadante lembrou sua trajetória política - que inclui passagens por pastas como o Ministério da Educação, ;sem qualquer familiariedade; com o setor da indústria naval - para explicar que teve de estudar o assunto nos últimos dias para responder alertas como os feitos pelo Sindicato da Indústria Naval.
A entidade alertou que, só em janeiro, três mil postos de trabalho foram fechados. De acordo com a entidade, os cinco estaleiros que têm contratos com a Sete Brasil - empresa criada para gerenciar a construção das sondas a serem usadas pela estatal na exploração do pré-sal ; estão em situação ;crítica;.
O ministro explicou que a Sete Brasil é uma ;peça; importante no desenho criado para a produção de sondas no país. A empresa venceu a licitação para construir 28 sondas, mas, segundo ele, com as denúncias e a crise do setor, a Sete Brasil teve dificuldade para viabilizar créditos para alavancar essa produção.
;As denúncias, com o impacto da Lava Jato, atrasaram a concessão de financiamentos de longo prazo e o repasse para os estaleiros;, lembrou o ministro. Segundo ele, a empresa está adotando uma estratégia de reestruturação e vai reduzir de 28 para 19 o número de sondas. ;Vai ter que fortalecer os estaleiros mais adiantados e vai ter que ter recomposição de estrutura acionária;, disse.
Segundo Mercadante, apesar de todo o cenário, o setor de petróleo e gás no país é ;promissor;. ;Hoje temos 69 mil trabalhadores empregadas pela indústria naval, nove estaleiros ativos e outros quatro em construção. Temos problemas sim, temos muitos, mas estamos bem melhor do que o momento em que não tínhamos nada;, disse.
Ele ainda destacou que mesmo sem obrigação regulatória, a Petrobras construiu diversas plataformas no Brasil, e o curso de engenharia nas universidades brasileiras está, hoje, entre as principais demandas de estudantes em razão da evolução do setor. O ministro ainda citou outras medidas como o fortalecimento do Fundo de Marinha Mercante que tem, atualmente, um total de ativos de R$ 28 bilhões. ;Temos ainda uma grande demanda potencial. De 12 plataformas para a área de Libras, há 12 para a área excedente da cessão onerosa, além de plataformas para Lula e Sapinhoá [áreas do Pré-Sal];, exemplificou.