A situação econômica do Brasil preocupa, afirmou nesta terça-feira (28/7) o número dois do Fundo Monetário Internacional (FMI), o vice-diretor executivo, David Lipton, em uma entrevista à jornalistas em Washington. Mas a instituição está "esperançosa" de que as medidas de ajuste tanto na política fiscal como na monetária restaurem a confiança dos empresários e consumidores brasileiros e abra o caminho para a volta do crescimento.
[SAIBAMAIS]"De modo geral, nós estamos preocupados com situação econômica no Brasil e o dilema que o país enfrenta de um crescimento em desaceleração e a necessidade de ajustar a política monetária e orçamentária", disse Lipton ao ser questionando sobre o País na entrevista. Ele frisou que o déficit fiscal é "muito alto" e a política monetária tem que lidar com uma inflação "muito elevada".
"Mas estamos esperançosos de que ações nesses dois ;fronts; darão apoio ao crescimento e à confiança", disse. No inicio do mês o FMI voltou a reduzir a previsão de expansão do Brasil, prevendo contração de 1,5% em 2015, ante expectativa de queda de 1% em um relatório divulgado em abril durante a reunião de Primavera da instituição. Questionado sobre a situação das contas externas brasileiras, Lipton preferiu não comentar este ponto, destacando que as conclusões estão em um relatório divulgado nesta terça-feira, "que fala por si mesmo".
O documento avalia a situação externa da economia mundial e tem tópicos específicos para os principais países e a zona do euro. Sobre o Brasil, o documento menciona que a situação externa do país está "mais fraca do que o nível consistente" com os fundamentos de médio prazo e o conjunto de políticas desejáveis.
Para 2015, a expectativa do FMI é que a posição externa do país se fortaleça "de alguma forma". Ao mesmo tempo, a queda dos preços das commodities no mercado internacional pode afetar o valor das exportações do país, ou seja, as contas externas continuam vulneráveis a novas oscilações dos preços. O relatório estima que a baixa das cotações pode reduzir o valor das exportações brasileiras em mais de 1% do PIB em 2015, de acordo com o relatório.
No documento, os técnicos do FMI destacam que o déficit em conta corrente do Brasil, que ficou em 4,5% do PIB em 2014, está acima do que é desejável quando se consideram os fundamentos de médio prazo. Pela estimativa do relatório, este déficit ideal seria entre 0,5% a 2% do PIB, considerando o cálculo com ajustes cíclicos.
O FMI destaca que o déficit em conta corrente aumentou no ano passado por causa de uma série de fatores, que incluem seca, piora dos termos de troca e a crise na Argentina, um dos maiores parceiros comerciais do país. Assim, mesmo com a fraca demanda interna, por causa da atividade econômica crescendo pouco, e da forte desvalorização do real, o déficit aumentou.