Jornal Correio Braziliense

Economia

Grécia começa a pagar credores e reabre bancos, ainda com restrições

Já os credores, assim que superarem suas diferenças, devem colocar em andamento um novo plano de ajuda à Grécia de mais de 80 bilhões de euros

Atenas, Grécia - A Grécia pagou nesta segunda-feira (20/7) parte de suas dívidas ao Banco Central Europeu (BCE) e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), no valor de 6 bilhões de euros, enquanto seus bancos abriram as portas após três semanas.

Graças aos 7,6 bilhões de euros concedidos na sexta-feira (17/7) pelo empréstimo de emergência, a Grécia pagou duas partes de sua dívida com o FMI, que venciam em 30 de junho e 13 de julho, totalizando 2 bilhões de euros.

Confirmado pela instituição, esse pagamento lhe permite sair da moratória, enquanto negocia o terceiro plano de ajuda para o país.

Hoje, a Grécia pagou ao BCE 4,2 bilhões de euros, da dívida e dos juros, segundo uma fonte próxima ao Ministério grego da Economia, assim como concedeu ao Banco da Grécia um empréstimo de 500 milhões da moeda única europeia.

O IVA passou de 13% a 23% para determinados alimentos, tarifas dos táxis, preservativos e serviços funerários. O imposto se manterá nos níveis atuais, porém, para o setor hoteleiro e foi levemente reduzido a 6% para medicamentos, livros e espetáculos.

O governo espera receita extra anual de 2,4 bilhões de euros a partir de 2016, e de 795 milhões ainda este ano.

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Esses aumentos foram aprovados pelo Parlamento grego, na última quarta-feira, 15 de julho, e fazem parte de um acordo assinado com os credores há uma semana, em Bruxelas. O pacto foi firmado em troca de um novo plano de ajuda, o terceiro desde 2010.

Serviços bancários restritos

Na manhã desta segunda-feira, as agências bancárias do país começaram a receber os clientes, mas o movimento registrado foi normal.

Embora os serviços bancários continuem restritos - como, por exemplo, o saque de 300 euros diários em vez de 60, o que aumentará progressivamente -, pode-se voltar a comprar no exterior e, em caso de tratamentos médicos e de estudo fora da Grécia, fazer transferências para outros países.

Luka Katseli, presidente da União dos Bancos Gregos e do Banco Nacional da Grécia, uma das quatro principais entidades gregas, pediu que os gregos levem suas poupanças aos bancos para contribuir com a solvência do sistema.

"Se tirarmos o dinheiro dos nossos cofres e de nossas casas, onde ele não está seguro, e trouxermos aos bancos, reforçaremos a liquidez da economia", declarou à rede Mega, lembrando que cerca de 40 bilhões de euros foram retirados dos bancos desde dezembro, piorando consideravelmente a situação.

Apesar de tudo, a chanceler alemã, Angela Merkel, reiterou no domingo sua oposição a uma redução da dívida grega. Ela alega que isso é impossível dentro da união monetária.

"A Grécia já obteve um alívio. Se a avaliação do programa que deve ser negociado tiver êxito, podemos voltar a conversar sobre isso", enfatizou.

Pela primeira vez em vários meses, os especialistas do BCE, do FMI e da Comissão Europeia viajarão à Grécia esta semana para avaliar o estado de uma economia castigada pelas restrições financeiras.

Semana crucial para Tsipras
Esta semana também será crucial para o futuro do primeiro-ministro Alexis Tsipras. O acordo de Bruxelas exige que, nesta quarta-feira, sejam votadas reformas sobre justiça civil e legislação bancária.

Segundo o jornal Avgi, ligado a seu partido, o Syriza, o premiê quer converter esse novo voto em uma moção de confiança.

Na última quarta, ele perdeu 39 votos dos 49 deputados de seu partido de esquerda, depois que alguns congressistas consideraram que traíram o "não" votado no referendo de 5 de julho. Nessa consulta popular, os gregos expressaram sua rejeição às políticas de austeridade.

"O que me preocupa é ver que alguns [dentro de Syriza] continuam afirmando que, saindo do euro, podemos impedir a austeridade", afirmou o ministro de Estado, Nikos Pappas, braço direito de Tsipras, em declarações ao jornal Ephimerida Ton Syndakton.

Tsipras teve de enfrentar, inclusive, críticas do Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, um dos maiores críticos das medidas de austeridade impostas a Atenas.

Já os credores, assim que superarem suas diferenças, devem colocar em andamento um novo plano de ajuda à Grécia de mais de 80 bilhões de euros.