O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, se encontra em uma posição delicada nesta segunda-feira, quando apresenta impopular pacote de reformas imposto pelos credores em troca de um novo resgate. O acordo pode levá-lo a enfrentar a oposição de seu próprio partido.
O político, um ex-comunista de 40 anos, que chegou ao poder em janeiro com a promessa de dar fim aos duros planos de austeridade impostos à Grécia por seus credores, enfrenta agora a difícil tarefa de impulsionar novas reformas, que foram classificadas como "as mais humilhantes" impostas ao país desde 2010.
Leia mais notícias em Economia
Provavelmente, Tsipras precisará do apoio da oposição pró-europeia para aprovar as medidas, que submeterão a Grécia a mais medidas de austeridade.
Depois de uma maratona de negociações com Bruxelas, os credores da zona do euro concordaram em conceder um resgate de três anos à Grécia de 96 bilhões de dólares (86 bilhões de euros), com um pacote de investimento de 35 bilhões de euros e, o mais urgente, um financiamento para os bancos gregos.
Na semana passada, Tsipras teve que defender no parlamento um pacote que incluía aumento de impostos, uma reforma nas aposentadorias e outras propostas que haviam sido rejeitadas pelos gregos no referendo de 5 de julho.
Além disso, Atenas aceitou a controversa privatização de bens estatais por um valor de até 50 bilhões de euros, que irão para um fundo gerido por credores europeus.
Tsipras insiste que lutou "uma batalha justa" para assegurar um acordo e prevê que "a grande maioria dos gregos vão apoiá-lo em seus esforços".
No entanto, depois de se ver obrigado a sacrificar a maioria de suas promessas eleitorais para manter seu país no euro, a sobrevivência de Tsipras no poder pode estar ameaçada, apesar de sua alta popularidade.
O ministro do Trabalho, Panos Skourletis, ex-porta-voz de Tsipras, disse nesta segunda-feira que o governo perderá sua maioria no parlamento e que terá que convocar eleições no final desse ano.
"Agora há um problema de maioria para o governo (...) prevejo (eleições) em 2015, é imperativo", afirmou Skourletis à rede estatal TV ERT.
Uma "colônia da dívida"
Na página Iskra, o ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, contrário à permanência no euro, também não se conteve.
"Depois de 17 horas de ;negociações;, os líderes dos estados da Eurozona chegaram a um acordo humilhante para a Grécia e para o povo grego", afirmou Lafazanis.
Segundo o ministro, a Grécia se transformará em "uma colônia da dívida de uma Europa supervisada pela Alemanha".
Especula-se que Tsipras está considerando reformar seu gabinete para tirar do governo alguns colaboradores que defendem uma postura mais radical e são partidários da saída da zona do euro, como Lafazanis.
No sábado, o primeiro-ministro já havia recebido fortes críticas pelas reformas que aceitou para chegar a um acordo.
Dos 149 legisladores de seu partido Syriza, 17 se negaram a autorizar o governo a negociar um resgate. Além disso, 15 dos parlamentares que votaram a favor especificaram que não dariam seu aval às reformas exigidas pelos credores.
Tsipras tem a opção de recorrer a um código interno do Syriza que determina que em caso de desacordo entre os legisladores e o executivo, esses devem entregar seus assentos.
Entretanto, o vice-presidente da Câmara, Alexis Mitropoulos, advertiu que a facção dissidente é muito influente para ignorá-la ou para reduzi-la.
"A facção dissidente é a co-fundadora do partido e a segunda mais poderosa", disse o advogado da rede de rádio To Vima. "Não acho que irão retroceder e não podem ser ameaçados para que renunciem".