Jornal Correio Braziliense

Economia

Com espaço menor no comércio, ofícios tradicionais mantém clientela fiel

Mas,para não se tornar obsoleto, quem atua nessas áreas precisa se aprimorar e ficar atento aos nichos de mercado

Na corrida contra o tempo, muitas profissões se perderam. Os cocheiros, que transportavam as pessoas em carroças e carruagens, não demoraram a ser substituídos por motoristas quando os carros se popularizaram. Perderam a corrida e, sem ninguém para transportar, tiveram que procurar outros caminhos. Na mesma estrada, com a chegada do computador, os datilógrafos foram para o acostamento. Os que conseguiram voltar para a pista, tiveram que se contentar com velocidade menor de ascensão na carreira e salário reduzido, como digitadores.

Com o comércio mundial cada vez mais globalizado, é inevitável e esperado que surjam novas técnicas de trabalho. ;É uma demanda da sociedade, que vai se renovando com o tempo. As profissões têm que se encaixar no contexto do momento;, explica a professora de administração da Universidade de Brasília (UnB) Débora Barem, especialista em mercado de trabalho. ;A partir do momento que uma máquina consegue fazer o que um trabalhador faz, essa função se torna desnecessária;, explica.

Mas, na contramão dos ofícios esquecidos, existem aqueles que resistiram aos encantos das tão aclamadas profissões do futuro, sem, contudo, entrar na categoria de trabalhos do passado. Eles optaram por permanecer no presente. Sapateiros, alfaiates, chaveiros, ferreiros. Para Barem, as funções que conseguem sobreviver à modernidade são aquelas cujo trabalho as máquinas são incapazes de imitar: ;Os profissionais dos quais a gente sempre vai precisar não vão desaparecer;, acredita. O que acontece é uma mudança estrutural. ;Para não serem substituídos, é preciso se reinventar.;

O consultor de empresas Jasson Firme afirma que o mercado tem hoje dois tipos de clientes. Enquanto o primeiro fica satisfeito em pagar barato por um serviço razoável, o segundo, mais exigente, aceita gastar mais, desde que o serviço saia exatamente como ele quer. ;É uma questão de sobrepor o valor ao preço;, resume. O objetivo é que, de uma dessas duas formas, o cliente fique satisfeito. Para o pequeno empresário mais tradicional, como os sapateiros e os alfaiates, o público-alvo passou a ser o segundo tipo. ;Os consumidores que aceitam pagar mais são gourmets. O profissional precisa adicionar valor ao trabalho e oferecer um serviço personalizado;, explica.

O alfaiate Nélio Cunha acredita nessa premissa. ;Tem que ter um diferencial para se manter nesse mercado hoje em dia;, conta ele, que, aos 59 anos de idade e com 40 de profissão, nunca reclamou por falta de clientes. ;Se eu fosse três, ainda sobraria trabalho;, conta.

No ateliê de Cunha, a especialidade é camisa social, feita sob medida. ;É o carro-chefe aqui, vende-se bastante. As pessoas costumam relutar em comprar, porque acham camisas bem mais baratas nas lojas e até na internet. Mas, quando vêm aqui, sempre acabam voltando;, garante.

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