Jornal Correio Braziliense

Economia

Trabalhadores do principal fornecedor de radiofármacos entram em greve

O responsável pelo Centro de Radiofarmácia do Ipen, Jair Mengatti, disse que os funcionários pararam em protesto pela falta de recursos para pagamento dos insumos importados e nacionais e pela interrupção de gratificação dos trabalhadores

Principal fornecedor de material radioativo médico do país, o Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (Ipen), com sede em São Paulo, interrompeu há dois dias o fornecimento da matéria-prima fluor-18, por causa da paralisação de funcionários. A substância é utilizada no exame PET-CT, que ajuda a diagnosticar doenças como o câncer de pulmão, câncer colorretal e linfomas de Hodgkin e Não-Hodgkin.

De acordo com o Ministério da Saúde, existem outros fornecedores do fluor-18 e não risco de desabastecimento do componente para os exames no Sistema Único de Saúde (SUS). O ministério destacou que há outros exames para detectar e diagnosticar cânceres que não utilizam o Fluor-18 como matéria-prima.

O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, Cláudio Tinoco, disse que, em apenas dois dias de paralisação, 2 mil exames diagnósticos tipo PET-CT deixaram de ser feitos.

;Anualmente, são feitos cerca de 100 mil exames PET-CT. O Flúor-18 dura somente duas horas, é impossível tê-lo armazenado na clínica e o fornecimento precisa ser diário para garantir o serviço;, explicou. Segundo ele, uma das vantagens dessa tecnologia é indicar com precisão se um tumor já se espalhou pelo corpo, para evitar cirurgia desnecessária.

Para Tinoco, a continuação da paralisação pode prejudicar o fornecimento de outros radiofármacos essenciais para diagnósticos e terapias e que são exclusivos do Ipen. ;Essa é uma atividade de monopólio da União. Quase todos os radiofármacos com meia-vida superior a duas horas são produzidos lá. Insumos essenciais, como o tecnécio-99m, que responde por mais de 85% de todos os procedimentos realizados na medicina nuclear, e o iodo 131;, explicou.

O responsável pelo Centro de Radiofarmácia do Ipen, Jair Mengatti, disse que os funcionários pararam em protesto pela falta de recursos para pagamento dos insumos importados e nacionais e pela interrupção de gratificação dos trabalhadores. O Ipen é uma autarquia vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do governo de São Paulo e gerida pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

;Dependemos em grande parte dos insumos importados e um dos fornecedores ameaçou suspender insumos na semana que vem por falta de pagamento;, disse Mengatti. Segundo ele, a dívida de US$ 2,2 milhões foi paga, o que evitou a suspensão.

A gratificação paga aos trabalhadores existe há cerca de quatro anos e segundo Mengatti varia de R$ 950 a R$ R1,1 mil, mas foi interrompida por não ter sido regulamentada. ;O radiofármacos têm uma logística muito complexa, independente do dia que cheguem precisamos processá-los e despachá-los imediatamente, em função do decaimento radioativo. Sem a gratificação fica inviável seguir com essa escala e esquema de plantão, pois somos um grupo muito reduzido;, explicou.



Cerca de 180 funcionários trabalham diretamente na produção dos fármacos do instituto criado na década de 1960. ;Mas 500 pessoas contribuem para o resultado final. Não é possível fazer a produção se toda a cadeia, longa e complexa, não estiver trabalhando harmonicamente em prol desse objetivo;, avaliou. ;Queremos que o governo regulamente essa gratificação e garanta recursos financeiros para adequação das instalações e manutenção da compra dos insumos para a produção;.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação não se pronunciou sobre a paralisação até o fechamento desta matéria.