O Banco Central Europeu (BCE), decidido a enfrentar o risco de deflação e estimular a economia da zona do euro, se encaminha a adotar um polêmico programa de compra de dívida, sobretudo na Alemanha, na reunião desta quinta-feira.
Os bancos centrais de Japão e Grã-Bretanha e os Estados Unidos já recorreram a este tipo de medidas, denominadas "expansão quantitativa" ou "QE", que pretende estimular o crédito e injetar dinheiro no circuito financeiro.
Na opinião dos especialistas, o QE europeu, alvo de especulações há meses, é agora um assunto resolvido. "Parece que a única dúvida não é se, mas como o BCE vai anunciar seu próprio programa QE nesta semana", declarou Carsten Brzeski, economista do banco ING.
Alguns, em particular na Alemanha, teriam preferido que o conselho de governadores esperasse para ver os efeitos da vertiginosa queda dos preços do petróleo na conjuntura econômica e na inflação. Mas a maioria dos observadores espera uma decisão nesta quinta-feira. Além da dívida soberana, a ofensiva monetária pode incluir dívida das empresas.
Credibilidade em jogo
As medidas adotadas até agora - taxas historicamente baixas, empréstimos enormes aos bancos europeus, compra de alguns ativos financeiros - não foram suficientes para recuperar a dinâmica dos preços.
Em dezembro, a inflação na zona do euro passou a território negativo (-0,2%) pela primeira vez desde 2009. Embora a queda dos preços do petróleo tenha influenciado, a inflação subjacente (sem contar a alimentação e a energia), de 0,7% no mês passado, segue muito baixa em relação à meta do BCE, de cerca de 2%.
A deflação, espiral em baixa prolongada dos preços e dos salários, está à espreita.
"A credibilidade do objetivo de inflação estará em sério perigo e as previsões de inflação podem cair mais se o BCE não agir", adverte Christian Schulz, do Berenberg Bank.
Todo o mundo antecipa esta ofensiva sem precedentes, principalmente os mercados. O euro já caiu muito em relação às principais moedas, o que, sem dúvida, ajudará as exportações europeias. O mesmo ocorreu com o rendimento da dívida emitida pelos Estados da união monetária, enquanto as bolsas subiram com força.
Carsten Brzeski considera que, diante das enormes expectativas geradas e pelo risco de decepção que as acompanha, o BCE pode permanecer voluntariamente impreciso sobre o montante do QE, que oscilaria, segundo diferentes fontes, entre meio trilhão e um trilhão de euros em quase dois anos. A imprecisão também facilitaria a flexibilidade, afirmam os especialistas do DekaBank.