Havana- A flexibilização do embargo dos Estados Unidos sobre Cuba, anunciada nesta quarta-feira (17/12) pelo presidente Barack Obama, poderá ter um rápido impacto sobre a combalida economia da ilha, disseram analistas à AFP.
"As medidas não apenas produzirão um salto no comércio com os Estados Unidos e na chegada de turistas, como também enviam um sinal favorável à comunidade internacional sobre o futuro econômico da ilha", disse à AFP o economista cubano Pavel Vidal, professor da Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia.
Mais de 90 mil americanos visitam Cuba por ano, apesar das restrições vigentes até agora, que os impedem de gastar na ilha e de importar suas mercadorias. Obama autorizou 12 categorias de viagem dos norte-americanos a Cuba. Eles poderão gastar, fazer pagamentos com cartões de crédito e importar até US$ 400 de mercadorias da ilha.
"São previsíveis os efeitos favoráveis na economia não somente no médio prazo, como também no curto prazo, com o aumento na chegada de turistas e de investimentos, que beneficiarão as grandes e pequenas empresas", completou Vidal.
O presidente Raúl Castro iniciou reformas que estimulam a criação de negócios privados, onde trabalham meio milhão de cubanos. Outros 140 mil cubanos receberam terras para a agricultura, e mais de 100 mil são pequenos proprietários agrícolas. Todos esses empreendedores manifestam a necessidade de créditos e meios de trabalho, assim como acesso a técnicas mais modernas para aumentar sua produtividade.
As medidas aprovadas por Obama autorizam o incremento de US$ 500 para US$ 2.000 trimestrais dos montantes das remessas que poderão ser enviadas para Cuba. Essas remessas já não precisam de licenças e podem ser destinadas a projetos de negócios e entidades privadas.
Também foram aprovadas a venda e as exportações de "alguns bens e serviços" destinados ao setor privado cubano, o que baratearia essas mercadorias, tornando-as mais acessíveis. "Se, efetivamente, excluir-se Cuba da lista de países que patrocinam o terrorismo, os custos e riscos de se ter vínculos com a economia cubana se reduzirão enormemente", lembrou Vidal. Obama anunciou que estudará o tema.
Vidal acrescentou que esse "é o melhor cenário, no qual pode começar a operar a nova política para o investimento estrangeiro e a Zona Especial de Desenvolvimento Mariel, que atualmente renova as esperanças de aceleração do crescimento do Produto Interno Bruto da ilha".
Autorizado pelo Congresso dos EUA em 2001, o comércio de alimentos e medicamentos também pode ser fortalecido depois da queda acentuada nos último anos, passando de US$ 962 milhões, em 2008, para US$ 401 milhões, em 2013.
Esse comércio, que deve ser feito em embarcações não cubanas, foi restringido quando Washington proibiu o pagamento em dólares e exigiu que as mercadorias fossem pagas antecipadamente, antes do embarque.
Agora, Obama se propõe a reavaliar essas restrições, o que "proporcionará um financiamento mais eficiente do comércio autorizado com Cuba". Se o governo autorizar as companhias financeiras norte-americanas a abrirem filiais em Cuba, isso pode facilitar os pagamentos.
"Para Cuba, é uma oportunidade de relançar os processos de reforma econômica, liberalização política e abertura com mais vigor", disse à AFP o acadêmico cubano Arturo López-Levy, do Centro de Assuntos Globais da Universidade de Nova York. Obama anunciou as medidas no momento em que Cuba busca investimentos estrangeiros para impulsionar o crescimento econômico.