Jornal Correio Braziliense

Economia

Endividamento e investimentos baixos são pontos fracos, avalia agência

Segundo o diretor da agência de risco, os ajustes que o Brasil terá de fazer não são fáceis, mas estão ao alcance sem precisar contar com condições internacionais

Depois do rebaixamento do rating de investimento brasileiro em março de BBB para BBB - estável, o país pode ter uma nova sinalização de rebaixamento se não mantiver o comprometimento do governo com a estabilidade fiscal e diminuir o endividamento, avaliou o diretor sênior da agência de risco Standard & Poors, Sebastian Briozzo.

Segundo o executivo, os ajustes que o país terá de fazer não são fáceis, mas estão ao alcance sem precisar contar com condições internacionais: "Por isso que nós colocamos a perspectiva em estável e não negativa, porque havia essa possibilidade [de ser negativa]".

"O mundo talvez não vai ajudar muito daqui pra frente. Seguramente, não vai. Mas eu acho que o Brasil, com as condições internas que tem, com um mercado interno importante que tem, com as potencialidades como o setor de petróleo, por exemplo, o Brasil tem tudo para ir pra frente", disse.

Brizzo afirmou que as metas estabelecidas pela nova equipe ecônomica do governo "se forem cumpridas no curto prazo, podem ajudar bastante a confirmar a perspectiva estável", evitando o rebaixamento da nota. "Pensamos que o comprometimento com políticas prudentes é fundamental", disse.

Para reverter o quadro e melhorar a avaliação, o Brasil vai precisar aumentar o nível de investimento público e privado, quesito que Briozzo considerou o ponto fraco do país. "Claramente, o setor privado é mais importante, mas em nenhum país do mundo o PIB pode crescer rapidamente se o nível de investimento do setor público é tão baixo quanto é no Brasil, perto de 1,5% do PIB.

O Brasil tem uma das cargas tributárias mais altas dos mercados emergentes e o nível de investimento público mais baixo dos mercados emergentes".

A Standard e Poor;s destacou como pontos fortes do país a existência de instituições políticas fortes e bem estabelecidas, principalmente se comparadas com as de outros membros do bloco Brics ; como a Rússia e a África do Sul. O próprio comprometimento das autoridades com metas prudentes e públicas também foi destacado.

A representante da agência no Brasil, Regina Nunes, exaltou que a melhora na nota que Brasil obteve entre 2003 e 2008 é um recorde, e que, naquela época, era muito mais improvável que fosse obtida. "O Brasil estava convergindo para o mercado acreditar que faria uma moratória", disse Regina, que afirmou: "As condições globais foram favoráveis, mas o trabalho que o Brasil fez, eu não vi nenhum país fazer em cinco anos".

Em 2003, o Brasil tinha nota B%2b com perspectiva negativa, e, em 2008, obteve o grau de investimento ao chegar a BBB -. Em 2011, a avaliação melhorou ainda mais, para BBB mas, neste ano, foi rebaixada para BBB -, sem perspectiva de um novo rebaixamento até o momento.



Para Sebastian, o Brasil terá muita dificuldade de acelerar sua taxa de crescimento se não implementar reformas profundas, como a reforma tributária e a da previdência. O que preocupa o Executivo, no entanto, é que essa discussão não está tão presente quanto poderia: "Para essas reformas chegarem, leva tempo, e uma das coisas que nos preocupa é que o nível de discussão não existe de forma significativa".