Paris - Os economistas criticaram duramente nesta quarta-feira (26/11) o plano de investimentos de Jean-Claude Juncker, que, segundo eles, chega em um bom momento, embora com um método e um montante que não reativarão a combalida economia europeia.
"Era o momento de fazê-lo. Estamos em uma fase de conjuntura fraca, de desemprego em massa, de demanda contraída, e o efeito [do plano] sobre a atividade poderá ser muito importante. Mas o montante do plano é muito baixo", lamenta Eric Heyer, economista no OFCE, um instituto de pesquisa considerado de esquerda.
[SAIBAMAIS]O presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker anunciou nesta quarta-feira (26/11) um plano para reativar o crescimento da União Europeia (UE) com a criação de um fundo que atraia pelo menos 315 bilhões de euros em investimentos.
Além dessa quantia, há um complexo dispositivo apoiado em parte no orçamento europeu e no Banco Europeu de Investimentos (BEI), o braço financeiro da União Europeia (UE), mas sem contribuições dos Estados-membros, embora não se descarte esta possibilidade.
Os investidores devem passar por um "Fundo europeu para o investimento estratégico", que conta com 21 bilhões de euros, uma espécie de "amortecedor de riscos" que supostamente deve atrair os recursos privados. O esperado efeito multiplicador (por 15) faria os investimentos chegarem a 315 bilhões.
Segundo Heyer, isso significa um aporte de 5 bilhões de euros de dinheiro público quando "o Produto Interno Bruto da UE é de 15 bilhões de euros".
Três vezes zero é sempre zero
"Ativando, inclusive, todos os multiplicadores, três vezes zero, dez vezes zero, sempre é zero", critica Heyer, para quem, no que se refere à reativação, "o tamanho, sim, importa".
Grégory Claeys, pesquisador do instituto Bruegel de Bruxelas, estima que as necessidades de investimento na UE são de 260 bilhões de euros por ano. "Com 315 bilhões em vários anos [a princípio, três] as contas não fecham", garante.
Ludovic Subran, economista-chefe da seguradora Euler Hermes, também não está convencido do plano. "Jean-Claude Juncker, é o Cid da União Europeia, começamos com 5 bilhões e chegamos a 315 bilhões" ironiza, parafraseando célebres versos da tragédia de Corneille.
Christopher Dembik, economista da Saxo Banque, é cético sobre o método da nova Comissão. "Pelo menos há uma vontade política e um reconhecimento da necessidade de investir, mas não há estratégia global de longo prazo", opina.
A Comissão europeia quer deixar a escolha final dos investimentos por conta de um comitê de especialistas e se nega a "distribuir" os fundos país por país, inclusive se os Estados forem os encarregados de apresentar uma lista de projetos.
Segundo Dembik, "uma parte dos fundos irá para projetos já lançados e os Estados vão captá-los para financiar investimentos sem aumentar seu próprio gasto público". Desse modo, Dembik não espera um "efeito de atração", principalmente porque os investidores privados são "bastante desconfiados".
"Estamos mais em uma lógica de proteção do que de promoção dos investimentos", resume Ludovic Subran. Para Grégory Claeys, "a ideia do plano é que o dinheiro público sirva para amortecer as possíveis perdas de alguns projetos, e reduzir os custes para os investidores privados".
"Mas há um risco, o de que isso beneficie sobretudo os investidores que já estão presentes, em vez de atrair novos investidores a projetos mais audaciosos", acrescenta.