Jornal Correio Braziliense

Economia

'Brasil cresce muito pouco para um país desse tamanho', diz CNI

Segundo Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as principais dificuldades do setor são: falta de competitividade, baixa produtividade, questões cambiais

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, demonstrou preocupação com o baixo crescimento do país, que deverá avançar apenas 0,3% neste ano pelas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) e menos que isso conforme as estimativas do mercado.

;É muito pouco para um país desse tamanho e uma indústria tão implantada no Brasil. Temos que mudar muita coisa e fazer com que o Brasil tenha condições de que a indústria brasileira participe de um mercado internacional. Hoje não participamos de um mercado internacional. Faltam acordos comerciais;, criticou ele, enumerando as dificuldades do setor: falta de competitividade, baixa produtividade, questões cambiais. ;O Brasil tem fazer esses ajustes para que a nossa indústria possa exportar. O que a gente vê em todos os países que o motor do crescimento e do desenvolvimento em qualquer país é a indústria;, afirmou.

Andrade demonstrou otimismo na retomada do diálogo do setor com o governo para a agenda de 42 propostas feitas durante a campanha eleitoral. A promessa foi feita pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de que elas serão debatidas na próxima semana e executadas ;uma a uma;, de acordo com suas prioridades, durante a abertura do 9o Encontro Nacional da Indústria (Enai), no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, nesta quarta-feira (5/11). A primeira reunião sobre o tema será realizada na próxima semana, informou o empresário.

Entre as propostas feitas pela entidade, o presidente da CNI destacou que a principal delas e que tem um peso enorme para as empresas e que precisa ser atacado pelo novo governo é a burocracia. ;Esse item não representa em redução de receita tributaria, mas uma redução enorme de custo (para as empresas);, disse ele. O empresário Jorge Gerdau reclamou que tem 100 empregados no Brasil para cuidar da burocracia enquanto que, no Canadá, apenas uma pessoa cuida desse assunto sem contar a confusão da nota eletrônica que, segundo ele, só existe no Brasil e complica mais ainda as operações porque uma entra outra não entra. ;Um dos maiores problemas é a burocracia;, disse Gerdau.

Andrade acrescentou que é preciso retomar a agenda de concessões em infraestrutura. ;O setor privado tem recursos suficientes para colocar nesses projetos. As concessões tem que sair, principalmente as de portos, porque eles têm um custo bastante elevado;, afirmou. O presidente da CNI lembrou da necessidade de revisão em algumas questões trabalhistas, que limitam a operação de máquinas modernas importadas de outros países, são importantes e não interferem na perda de benefício para o trabalhador. ;Temos propostas concretas sobre a questão trabalhista e da burocracia e vamos discutir isso;, afirmou.

Mercadante, que chegou a ser cotado para chefiar o Ministério da Fazenda no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, aproveitou o evento e para falar a favor da atual política econômica e defendeu a estratégia de fortalecimento dos bancos públicos, principalmente, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Criticou os economistas ortodoxos, que defendem um ajuste forte, principalmente, nos gastos públicos. Para ele, isso ;é continuar cavar o buraco;.



;Os governos precisam fazer uma política amigável ao emprego e com estímulo da atividade econômica. Precisamos coordenar estímulos a nível internacional para sairmos da crise juntos;, afirmou o ministro. Nesse sentido, ele defendeu também a revisão da meta de superavit primário para que o governo continue mantendo os gastos na área social e nos investimentos. Até setembro, o rombo das contas do setor público foi de R$ 25,5 bilhões.

;Para enfrentar esse cenário que nos temos que manter investimentos em gastos sociais e foi importante desonerar e a economia e a receita caiu. Mas a desoneração é que mantem a atividade e o emprego no Brasil;, disse ele que cortar gasto público é como cortar o cabelo: sempre tem excesso para tirar. ;O que não dá para fazer é um corte drástico que imponha uma trajetória recessiva. Temos que manter o emprego e a renda da população. Porque não dá para crescer para fora. Nós só conseguimos crescer com um mercado interno forte e é o que esta amenizando o impacto da crise internacional;, completou.

O Enai reúne cerca de 1,8 mil empresários e representantes da indústria de todo o país. O objetivo do encontro que termina amanhã é debater a agenda do próximo governo e o que é preciso ser feito para melhorar a produtividade e a competitividade do setor produtivo.