A inflação incomodando, os juros altos para contê-la e o crescimento pífio da economia deixam os consumidores desconfiados com o que estar por vir. ;Faço as compras e vejo que as coisas estão esquisitas. Quando levo R$ 50 ao mercado, trago tudo na mão. Não precisa nem mais de sacola;, comenta, assustada com a carestia, a pernambucana Geralda Macedo Gomes, 80 anos, sete filhos, 19 netos e 17 bisnetos. ;E ainda vou ver meus tataranetos;, avisa ela, com sorriso fácil.
O pouco de dinheiro que o servidor público Américo Pereira, 46, conseguiu juntar precisou ser resgatado nos últimos meses para salvar as contas. Após a reforma da casa em 2010, acompanhada da fase da bonança, chegou a hora de segurar os gastos no curto prazo e se preparar para um arrocho maior a partir de janeiro. ;Está tudo muito incerto. No momento, não dá para ter garantia de nada;, sublinha ele, com dois empréstimos pendurados no banco.
Faxina
Se não quiserem virar o ano com as contas tão incertas quanto o cenário, os brasileiros precisarão fazer uma faxina no orçamento doméstico, aconselha o educador financeiro Reinaldo Domingos. Vale questionar com firmeza a necessidade do consumo e, vencendo a tentação dos gastos, reservar boa parte do 13; salário para a poupança. ;Se existem dívidas, no entanto, quitá-las é a prioridade. Para os endividados, não faz o menor sentido encarar novos compromissos;, acrescenta.
Com o crédito mais caro e mais restrito, o comércio tende a oferecer parcelamentos mais tímidos neste fim de ano, com prazo de pagamento encurtado. Enquanto a economia não se acalmar, Domingos recomenda que os consumidores encararem prestações por, no máximo, três meses, no caso de bens duráveis. E o mais importante, completa ele, é levar a sério as ;reservas estratégicas;. ;As famílias terão de estar preparadas para situações de recessão;.
Francisco Johnes, 24, tira o próprio sustento dos bicos como pedreiro. Apesar de a demanda pelo serviço dele ter diminuído consideravelmente, as dívidas foram controladas. ;O dinheiro está escasso. Quem tem está preferindo guardar;, diz ele, que mora com mais nove pessoas da família em um terreno ocupado por dois barracos. ;Aqui, está tudo mundo apertado. Ninguém é doido de sair comprando mais;, emenda.
A mãe de Francisco, Regina Alves Barbosa, 42, sonha com geladeira e guarda-roupa novos. ;Mas sei que agora não dá. Não se pode fazer dívida sem certeza do futuro;, comenta ela, que sobrevive com a pensão do marido e ajuda dos filhos. As faturas de água e luz do terreno estão atrasadas. Já a televisão, comprada há um ano, foi finalmente quitada. Consciente da situação atual, Francisco torce para que a situação melhore em 2015. ;Espero que as pessoas voltem a construir;.