Jornal Correio Braziliense

Economia

Burocracia e más condições das estradas engrossam o Custo Brasil

Ao longo da última década, o governo federal construiu com recursos próprios ou com parceiros privados 8 mil km de estradas. Mesmo assim, dois de cada 10 km nem sequer são asfaltados

A resposta ao baixo crescimento econômico, à inflação persistentemente elevada e à dificuldade da indústria em reagir à agressiva concorrência externa passa, necessariamente, pelo combate ao Custo Brasil. A falta de estradas transitáveis, a burocracia alfandegária e a sanha arrecadatória por impostos estão entre os fatores que tornam quase tudo no país mais caro do que no exterior. É um problema histórico que continua a desafiar os governos e a minar a competitividade nacional.

Um simples exemplo dá a dimensão desse obstáculo. O mesmo pneu vendido no Brasil chega a custar, em média, 130% a mais do que nos Estados Unidos. O cálculo, feito pelo economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, reflete o quão desigual é o sistema tributário. Mas há bem mais a se colocar nessa conta. O preço elevado dos fretes é um deles. Levar um navio de Recife ao Rio de Janeiro, por exemplo, chega a custar o dobro do preço para transportar a mesma mercadoria até a China.

Se a entrega for via terrestre, no entanto, os gastos podem ser até cinco vezes maiores. Muito em razão da precariedade das estradas e ao alto custo com a proteção contra roubos de mercadorias. O Brasil tem 65,9 mil km de malha asfaltada, o mesmo que tinha a China em 2009 e ainda menos do que ostentava os EUA cinco anos atrás (80 mil km). Essa diferença já foi até maior. Ao longo da última década, o governo federal construiu com recursos próprios ou com parceiros privados 8 mil km de estradas. Mesmo assim, dois de cada 10 km nem sequer são asfaltados, conforme dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).



Só para que o Brasil compensasse o deficit existente, seria necessário construir mais 21 mil km, estima a consultoria norte-americana Bain. O custo, porém, inviabiliza o início imediato das obras: R$ 250 bilhões. É praticamente 10 vezes o valor gasto com o Bolsa Família, R$ 24,5 bilhões em 2013, segundo a organização Contas Abertas. As dificuldades são ainda maiores para quem depende da agilidade da burocracia portuária. Enquanto que, em Cingapura, o tempo médio para importar uma mercadoria é de quatro dias, no Brasil, esse prazo é de 17 dias. Os preços cobrados também impressionam. Cada contêiner que sai dos portos nacionais custa, em média, US$ 2.215 ao exportador. Nesse quesito, o Brasil tem o terceiro pior desempenho entre países da América Latina.

Se a comparação for feita com a parte de cima da tabela, as diferenças são gritantes. No Panamá, o custo por contêiner exportado não chega a um terço do que é cobrado no Brasil: US$ 625, conforme dados do Banco Mundial. ;É uma vergonha;, classificou o economista Roberto Luis Troster, ex-economista-chefe da Febraban. ;Custo elevado aumenta preço, e preço mais alto reduz competitividade;, arrematou. Outro retrato da burocracia é a demora para abrir uma empresa: na América Latina, país só perde para a Venezuela nesse quesito. Enquanto aqui se leva mais de três meses, no Chile bastam cinco dias.

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