A renda cresceu, e com ela, as dívidas. Segundo pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel, 51% dos brasileiros gastaram mais do que podiam em 2013. Das famílias analisadas, as mais endividadas pertencem às classes D e E: 53% vivem desequilíbrio nas finanças. A pesquisa identificou que, em 2012, a renda média do brasileiro era de R$ 2.603, enquanto em 2013 ficou em R$ 2.779, aumento de 6,8%. O gasto médio, registrando aumento de 8,7% em 2013, chegou a R$ 2.762. Entre os gastos com maior alta estão habitação, incluindo aluguel, manutenção e reformas (18,3%), serviços pessoais (17,7%) artigos de limpez (16,9%), fumo (16,7%) e alimentação for a de casa (14,3%).
[SAIBAMAIS]O professor Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, acredita que é natural que os gastos aumentem junto com a renda. Mas alerta: ;As pessoas vão além do que podem, adquirindo hábitos custosos e desnecessários, que, antes do aumento no rendimento, não possuíam. O que ajuda na economia é evitar ;gastos tolos;, que trazem prazer instantâneo, e não a longo prazo. É importante investir naquilo que realmente importa e ficar atento aos pequenos gastos diários que,
quando anualizados, poderiam pagar uma viagem;, exemplifica. Calil recomenda que, mensalmente, se poupe de 10% a 20% para assegurar uma aposentaria tranquila. ;Fora isso, não há uma fórmula de quanto se deve destinar a cada gasto mensal. O importante é ter discernimento e não se deixar levar pelos impulsos;.
Carolina Andrade, executiva de Marketing da Kantar Worldpanel, afirma que o impacto da inflação nas compras das famílias foi percebida desde o início da pesquisa, no primeiro trimestre de 2013. ;Alguns hábitos do consumidor brasileiro mudaram. As pessoas passaram a ficar em casa: evitam comer fora, sair após o expediente e fazem compras em volume maior para ir menos vezes ao supermercado, evitando produtos supérfluos. Em 2014, imaginamos que essa situação permaneça;, afirma. Os dados da pesquisa revelam que a alimentação for a de casa pesou no bolso do brasileiro ; ficou 14% mais cara ; e cerca de 1,2 ilhões de pessoas deixaram esse hábito para trás. Segundo a executiva, o aumento de famílias que usam o cartão de crédito foi outro fator que contribuiu para o endividamento: cerca de 3,7 milhões de domicílios passaram a utilizar o cartão na hora das compras. ;Em 2009, 57% dos brasileiros optavam por esse meio de pagamento. Já em 2013, esse número foi para 61%. Quanto maior o acesso ao crédito, maior o risco de endividamento;, completa.
Para Jurandir Sell, consultor de finanças pessoais do Itaú Unibanco, o crédito não é sempre um vilão: ;Gastar mais do que se ganha, sem organização, é uma ilusão que acaba rápido: logo o crédito se esgota e as dívidas começam a se acumular. O crédito deve proporcionar alguma melhoria, como no caso de compra de bens duráveis, imóveis e investimento em educação. O
que pode causar problemas são os gastos descontrolados;, alerta. O especialista recomenda cuidado e organização na hora de repensar as despesas. ;Gastar melhor não é necessariamente gastar menos, mas cortar os despedícios e investir, fazer dívidas ;saudáveis; que vão facilitar a vida e ajudar na economia a longo prazo;.