Os repasses aos consumidores, dizem os ambulantes, deveriam ser ainda maiores. A diferença de preço só não fica mais evidente porque os vendedores adotam estratégias para manter as vendas. Há dois anos, por exemplo, Rogério da Silva, 33 anos, anunciava sete panos de chão por R$ 10. Ele manteve o valor cheio, mas, hoje, o cliente leva apenas cinco panos. ;Comprava na fábrica, em Anápolis, a R$ 0,70 a unidade. Agora, para mim, sai a quase R$ 1;, justifica, revelando uma margem de lucro de cerca de 100%.
O pacote com 100 sacos de lixo, também ofertado por Silva nos semáforos de Brasília, custava no atacado R$ 17, lembra ele. A mesma quantidade custa hoje, dois anos depois, quase R$ 23, uma alta expressiva de 35% que obrigou o ambulante a refazer contas. ;Para não assustar o freguês com um aumento de preço tão grande da noite para o dia, tive que reduzir de 40 para 35 o número de sacos na embalagem, mas acabei mantendo o preço de R$ 10;, conta.
Silva não sente o peso da inflação somente no trabalho. Criado em Ceilândia, ele decidiu se mudar no início deste ano para o Plano Piloto, onde passou a dividir o aluguel de uma quitinete com a mulher. Trocou os R$ 300 que gastava com transporte pelos R$ 400 da locação do imóvel mais bem localizado. ;Estou conseguindo tirar essa diferença tendo mais tempo para vender. Começo a trabalhar no início da manhã e sigo até o fim da tarde;, relata.
A mudança deveria ter sido positiva, mas a conjuntura do país atrapalhou os planos e as contas do vendedor. Endividado e com o poder de compra corroído pela inflação, Silva está mais receoso na vida particular e, principalmente, nos negócios. ;O movimento caiu bastante. Antes, eu conseguia vender para cerca de 40% dos dois mil carros que paravam por dia no semáforo. Há uns três meses, não mais do que 10% dos motoristas levam meus produtos;, compara.
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