Paulo Silva Pinto
postado em 02/04/2014 06:00
Com a inflação em disparada, a ponto de estourar o teto da meta, de 6,5%, às vésperas da eleição presidencial, o governo praticamente bateu o martelo: não autorizará nenhum reajuste da gasolina até que sejam proclamados os resultados das urnas, em outubro próximo. Mesmo que isso signifique sacrificar ainda mais o caixa da Petrobras, que está no centro de uma das mais graves crises políticas da administração Dilma Rousseff. ;Se a gente não quer inflação e o preço do combustível impacta o custo de vida, (a Petrobras ) segura mais um pouco;, afirmou ontem ao Correio o presidente nacional do PT, Rui Falcão.
A ordem é não dificultar ainda mais o trabalho do Banco Central, que hoje elevará a taxa básica de juros (Selic) de 10,75% para 11% ao ano, na tentativa de conter a disseminação de reajustes. O governo sabe que, na avaliação dos consumidores-eleitores, inflação pesa muito mais que juros na hora de eles votarem. ;Por enquanto, não há aumento de combustíveis à vista. Antes que isso aconteça, teremos de ver um quadro mais tranquilo para a inflação, o que não é possível agora;, disse um técnico da equipe econômica, com trânsito no Palácio do Planalto. ;Inflação alta não combina com candidatura à reeleição;, acrescentou.
Os consumidores sabem que, apesar da decisão do governo de manter os preços dos combustíveis congelados na Petrobras, na bomba, a situação é bem diferente. Desde a metade do mês passado, a gasolina já ficou 2,26% mais cara no Distrito Federal. O derivado do petróleo está sendo vendido a R$ 3,16 o litro ante os R$ 3,09 observados há duas semanas. Na opinião do procurador jurídico José Alberto Cabral, 61 anos, o reajuste foi muito maior. Ele contou que abastece seu carro toda semana e gasta aproximadamente R$ 500 por mês. ;No início do ano, tinha uma despesa 30% menor que a de agora. Mas, infelizmente, não temos como fugir. Os preços são os mesmos em todos os lugares, como se houvesse uma combinação entre os postos;, assinalou. ;O pior é que não acredito em melhora da situação tão cedo. Outros aumentos virão;, desabafou.
O pessimismo do procurador é compartilhado pelo guia turístico Juan Hermida, 52. Ele gasta, semanalmente, cerca de R$ 70 com combustível e sente o peso no bolso. ;Estou desembolsando pelo menos R$ 20 a mais todos os meses. Os postos têm uma estratégia para não chamar a atenção: vão aumentando em centavos, o que parece pouco. Mas, depois de um tempo, faz muita diferença; enfatizou. Diante desse quadro, ele está sendo obrigado a reajustar os seus serviços. ;A clientela anda reclamando muito. Mas não tem como ser diferente. Preciso repassar a alta de custos;, lamentou.
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