Jornal Correio Braziliense

Economia

Tensão na Itália por Telefónica e novo plano estratégico da Telecom Itália

Seu principal objetivo é, além do tradicional exame dos resultados trimestrais, a apresentação pelo conselheiro delegado, Marco Patuano, de um novo plano estratégico à luz dos últimos acontecimentos

A operadora Telecom Itália, em dificuldades, examina nesta quinta-feira (7/11) um novo plano de recuperação que gerou preocupações na Itália, onde se acredita que o plano sirva unicamente aos interesses de sua rival e principal acionista, a espanhola Telefónica.

O conselho de administração do grupo se reuniu na tarde desta quinta-feira pela primeira vez desde a renúncia, há um mês, do presidente da Telecom Itália, Franco Bernabé, por causa de um conflito com a Telefónica.

Seu principal objetivo é, além do tradicional exame dos resultados trimestrais, a apresentação pelo conselheiro delegado, Marco Patuano, de um novo plano estratégico à luz dos últimos acontecimentos. A reunião será "longa", disse laconicamente um dos administradores, Tarak Ben Ammar, em sua chegada à sede da empresa em Milão.

A Telecom Itália está sendo fortemente pressionada para reduzir sua dívida (28,8 bilhões de euros), encontrar um modelo de atividade que gere lucros em um mercado altamente competitivo e decida se transfere sua rede fixa a uma sociedade separada.

A agência de classificação financeira Moody;s degradou recentemente a nota da empresa à categoria de créditos de risco.

Apesar dos problemas de estratégia que a Telecom Itália atravessa não serem novos, a situação se complicou desde que a Telefónica ampliou seu capital em setembro.

O grupo espanhol controla agora 66% da holding Telco - proprietária de 22,4% da Telecom Italia -, e poderá comprar o que falta a partir de 2014, o que lhe garantiria o controle.

A classe política italiana costuma apontar o caso da Telecom Italia como símbolo do fracasso do modelo industrial italiano, como demonstra também o fato de que a companhia aérea Alitalia poderia passar em pouco tempo para o controle da Air France-KLM ou de outra companhia estrangeira.

O governo italiano começou a estudar, nas últimas semanas, a ideia de modificar a atual legislação sobre as OPA - operações públicas de aquisição - para impedir que a Telefónica reforce seu controle da Telecom Itália e para se prevenir contra supostas ameaças à segurança do país e do emprego.



Telecom Argentina

Segundo a imprensa italiana, o plano de Patuano prevê uma possível cessão da parte do grupo na empresa Telecom Argentina. Também poderia contemplar a venda de antenas de telefonia móvel e ativos imobiliários assim como eventuais empréstimos conversíveis ou um aumento de capital.

Mario Greco, dono da empresa de seguros Generali, também acionista da Telco, disse nesta quinta-feira que, a princípio, não tem "nenhuma preferência". "Se as ideias são convincentes, as apoiaremos", disse em uma conferência telefônica.

O executivo Marco Fossati, cuja empresa Findim possui 5% da Telecom Itália, foi mais claro. Na quarta-feira apresentou em Londres um "anti-plano" detalhando sua própria visão sobre o futuro do operador.

"Não me oponho às cessões, mas acredito que não é o momento. Acredito em possíveis associações, por exemplo, no Brasil", explicou em sua apresentação em Londres, segundo a imprensa italiana.

"Com o projeto justo, daqui a 2-3 anos o título poderia valer 1,5 euro", mais que o dobro do nível atual, acrescentou.

Por iniciativa própria, o conselho de administração pode convocar antes do final do ano uma assembleia geral em que pretende propor que os integrantes sejam renovados. "Os espanhóis só se preocupam com seus interesses", considerou.

A associação de pequenos acionistas Asati também é contra dois supostos planos da Telefónica para o grupo. Na quarta-feira, pediu aos administradores independentes que se oponham a todo projeto da Telefónica-Telco que se traduza em um "empobrecimento do patrimônio atual da sociedade".