Jornal Correio Braziliense

Economia

Greves atingem Grécia e Portugal contra medidas de austeridade

As paralisações demonstraram o descontentamento público em países periféricos da zona do euro com um orçamento mais rígido para controlar a dívida pública e estabilizar a zona do euro

Trabalhadores gregos começaram uma greve geral e funcionários ferroviários portugueses interromperam o tráfego nesta quarta-feira (6/11) em novos protestos contra as medidas de austeridade e os dolorosos cortes salariais.

As paralisações demonstraram o descontentamento público em países periféricos da zona do euro com um orçamento mais rígido para controlar a dívida pública e estabilizar a zona do euro.

A greve geral na Grécia acontece enquanto auditores da UE e do FMI trabalhavam em Atenas para finalizar o próximo orçamento do país em recessão, buscando eliminar um déficit fiscal de dois bilhões de euros, a maior parte com cortes ainda mais impopulares.

O relatório da União Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu é um requisito para a Grécia obter uma parcela de empréstimo de um bilhão de euros.

Muitos gregos dizem que os drásticos cortes já os levaram a uma situação limite.

A greve desta quarta-feira (6/11), a última deste ano organizada pelos principais sindicatos do país, fechou os serviços civis, bem como os serviços de trens e ferries em todo o país.

Os hospitais trabalharam com equipe reduzida e muitos voos foram cancelados devido às paralisações dos profissionais da aviação civil. Os jornalistas gregos também fizeram greve de cinco horas.



O maior sindicato, GSEE, que representa o setor privado, disse que os funcionários estavam "continuando a luta contra as medidas de austeridade sem sentido".

"O governo e os credores estão falando de déficits e disparidades fiscais, mas eles não falam que a grande disparidade é o estado social e a sociedade", disse o presidente do GSEE, Yiannis Panagopoulos, em um comunicado.

"Não vamos parar. Nossa única esperança é lutar", disse Panagopoulos.

Desafiando a chuva forte, 4 mil membros afiliados ao sindicato comunista PAME caminharam para a praça Syntagma em Atenas, de acordo com a polícia.

Outros mil manifestantes se reuniram do lado de fora dos escritórios do GSEE, mas o protesto principal foi abandonado por causa do tempo.

Protestos similares aconteceram na segunda maior cidade da Grécia, Thessaloniki, com 10 mil manifestantes, segundo a polícia.

A Grécia caiu em recessão com a crise econômica global de 2008 e em 2010, o aumento dos custos dos empréstimos sobre a sua dívida forçou Atenas a buscar um resgate pela UE e o Fundo Monetário internacional.

Dois resgates, avaliados em mais de 240 bilhões de euros mais 100 bilhões de euros em um perdão da dívida, ajudaram a evitar a saída do euro.

Contudo, isso significa um grande custo para os gregos. Para o resgate o governo aumentou os impostos enquanto cortou benefícios, salários e empregos.

Desde 2008, a taxa de desemprego triplicou a 27,6% enquanto a economia se contraiu 22%.

Na terça-feira, os manifestantes importunaram os auditores da UE e do FMI do lado de fora do Ministério das Finanças e um homem foi detido depois de jogar moedas no carro em um chefe da missão do FMI.

Alguns deputados do governo protestaram contra os planos de aumentar os impostos às áreas agrícolas, uma ação que pressionou o primeiro-ministro, Antonis Samaras.

"Esta é uma negociação... devemos acabar com a ideia de que isso é uma guerra," disse Samaras em uma entrevista televisionada na noite de segunda-feira.

Vida de pedinte

O descontentamento com as medidas de austeridade também foram vistas em Portugal, onde uma greve de 24 horas dos trabalhadores ferroviários sobre o futuro salário reduziu a circulação de trens a menos de um terço.

A paralisação foi "uma clara resposta aos trabalhadores" à proposta do orçamento de 2014 para cortar os salários de "30 a 40%", disse o chefe da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicação, Abilio Carvalho.

Uma manifestação contra a austeridade está prevista para sábado em Lisboa.

Na capital romena, Bucareste, 5 mil professores protestaram contra a "vida de pedinte" causada pelos baixos salários.

Embora a Romênia não use o euro, sofreu com a recessão de 2009 e pediu um resgate de 20 bilhões de euros com o FMI e a UE em troca de medidas austeras.

"O pior é que pessoas jovens e competentes estão deixando a Romênia. Eles não podem viver com seus salários aqui agora", disse à AFP uma manifestante, a professora Charlotte Divoiu de 56 anos que recebe 400 euros por mês.